O globo, n. 31819, 18/09/2020. País, p. 8

 

Impeachment de governador de SC avança

Guilherme Caetano

Maiá Menezes

Sérgio Roxo

18/09/2020

 

 

Assembleia aprova abertura de processo, que também atinge a vice, e afastamento será votado nos próximos dias; com Witzel e Wilson Lima (AM), Carlos Moisés e mais um eleito em 2018 sob a bandeira da nova política a ser enfrentado pelo Legislativo

 Por 33 votos a favor e seis, a Assembleia de Santa Catarina (Alesc) decidiu, ontem, abrir um processo de impeachment contra o governador Carlos Moisés e sua vice, Daniela Reinehr, ambos do PSL. Os dois vão permanecer no cargo até que um tribunal misto formado por desembargadores e deputados decida ou não afastá-los, o que acontecerá nos próximos dias. Caso sejam afastados, o processo vai durar até 180 dias, quando será marcado julgamento definitivo.

A situação de Santa Catarina é mais uma em que governadores eleitos na esteira do bolsonarismo e da “nova política”, temas que dominaram a eleição em 2018, enfrentam desafios no Legislativo. No Rio, o governador Wilson Witzel, afastado por ordem judicial, teve mais um revés ontem, quando os deputados da comissão que analisa o impeachment aprovaram a continuidade do processo. O relatório irá a plenário na semana que vem.

Já no Amazonas, um pedido de impeachment do governador Wilson Lima (PSC) foi arquivado, mas há outros oito procedimentos aguardando parecer da área jurídica da Assembleia Legislativa. Os enfrentamentos com os parlamentares mostram que o discurso de campanha, avesso às formas tradicionais de se fazer política, encontrou dificuldades de superar a realidade em que o diálogo com deputados é peça-chave na governabilidade.

Caso o tribunal misto decida pelo afastamento de Moisés e Daniela, o cargo de governador será assumido pelo presidente da Alesc, Julio Garcia, denunciado 12 vezes pelo Ministério Público Federal pelo crime de lavagem de dinheiro. Garcia se absteve da votação ontem.

O pedido de impeachment foi feito inicialmente pelo defensor público Ralf Zimmer Junior. Segundo ele, Moisés e o secretário estadual de Administração, Jorge Eduardo Tasca, cometeram crime de responsabilidade por conta do aumento salarial concedido a procuradores do estado em 2019, buscando equiparar a remuneração com a dos procuradores jurídicos da Alesc. O Ministério Público e o Tribunal de Contas local não apontaram responsabilidade do governador.

O governador não conseguiu apoio de seu partido. Dos seis deputados do PSL, cinco votaram a favor da abertura do impeachment. O placar contra a vice, em votação separada, foi de 32 a 7.

“A pressa com a qual o presidentedoparlamentoestadual levou o tema a plenário revela tão somente o interesse politico daqueles que buscam o poder”, disse o governador, em nota, depois da votação.

BOLSONARISTAS EM AÇÃO

Antes da sessão, Moisés gravou um vídeo e publicou em suas redes sociais. Nele, disse que o processo contra ele tinha motivação política.

“Nós, catarinenses, já enfrentamos muitos desafios. Sempre superamos. O mais recente é um processo de impeachment com motivação política. Não seremos coniventes com as práticas que decidimos mudar no dia em que fomos às urnas”.

A inclusão da vice no processo foi um dos maiores impasses entre os deputados. A proximidade dela com aliados do presidente Jair Bolsonaro embaralhou a articulação pelo impeachment. Deputados federais como Caroline de Toni (PSL-SC), Carla Zambelli (PSL-SP) e Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) lideraram um movimento para tentar livrar Daniela do processo.