O Estado de São Paulo, n.46289, 12/07/2020. Política, p.A7

 

'Exército se associa a genocídio na Saúde', diz Gilmar

Rafael Moraes Moura

Jussara Soares

12/07/2020

 

 

Ministro do Supremo critica falta de titular na pasta durante pandemia; Defesa afirma que Forças Armadas atuam no combate ao vírus

58 DIAS sem Ministro da Saúde

'Intolerável'. Gilmar Mendes ataca falta de titular na Saúde

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes disse ontem que o Exército está se associando a um "genocídio", ao se referir à crise do novo coronavírus, agravada pela falta de um titular no Ministério da Saúde.

O Brasil está há 58 dias sem um ministro para a pasta. O general Eduardo Pazuello assumiu interinamente o ministério após o ex-ministro Nelson Teich se demitir em 15 de maio.

"Não podemos mais tolerar essa situação que se passa no Ministério da Saúde. Não é aceitável que se tenha esse vazio. Pode até se dizer: a estratégia é tirar o protagonismo do governo federal, é atribuir a responsabilidade a Estados e municípios. Se for essa a intenção é preciso se fazer alguma coisa", afirmou Gilmar, em videoconferência realizada pela revista IstoÉ.

"Isso é péssimo para a imagem das Forças Armadas. É preciso dizer isso de maneira muito clara: o Exército está se associando a esse genocídio, não é razoável. É preciso pôr fim a isso."

Na última terça-feira, o presidente Jair Bolsonaro disse que Pazuello não ficará no cargo, mas não sinalizou que procura outro ministro. Pazuello é visto como mais influente e poderoso que Teich. Desde que assumiu o ministério, ele tomou decisões a favor da cloroquina e contra o distanciamento social.

Procurado, o Ministério da Defesa afirmou que as Forças Armadas "atuam diretamente no combate ao novo coronavírus" e a favor do "bem-estar de todos os brasileiros". "São empregados, diariamente, 34 mil militares, efetivo maior do que o da Força Expedicionária Brasileira (FEB) na Segunda Guerra". Em nota, a pasta lembra que o Exército está por trás de ações como o resgate de brasileiros na China, o transporte de pessoal e equipamento, e assistência à saúde em "localidades carentes e isoladas".