O globo, n. 31816, 15/09/2020. Rio, p. 11

 

Nova denúncia

Chico Otavio

Pedro Zuazo

15/09/2020

 

 

Empresário confessa desvio de R$ 50 milhões no governo Witzel

A candidatura de Wilson Witzel ao Palácio Guanabara teria contado coma ajuda financeira deu mg rupo de empresários suspeito de aparelhar o estado e desviar cer cade R$ 50 milhões em propinas, de acordo com um novo depoimento do empresário Edson Torres, apontado como operador financeiro de Pastor Everaldo, presidente nacional do PSC, partido do governador afastado. Ele compareceu de forma voluntária ao Ministério Público Federal (MPF) após a deflagração da Operação Tris in Idem —que, no fim do mês passado, culminou no afastamento do governador— e explicou como funcionava o suposto esquema de corrupção. Ontem, Witzel foi denunciado pela segunda vez.

De acordo com o depoimento, Witzel recebeu R$ 980 mil quando ainda era juiz federal e mais R$ 1,8 milhão até o fim do segundo turno, por meio de Everaldo, no intuito de garantira atuação ilícita da organização criminosa caso vencesse as eleições. Depois disso, o grupo teria estruturado um esquema de corrupção na Saúde, na Cedae e no Detran e criado uma “caixinha da propina”, irrigada com um percentual entre 3% e 7% dos contratos. O governador afastado negou a acusação.

O depoimento faz parte de uma nova denúncia contra Witzel, protocolada ontem pela Procuradoria-Geral da República (PGR), agora por organização criminosa. Ele já havia sido denunciado, no último dia 28, por corrupção e lavagem de dinheiro, por conta de supostas fraudes na Saúde.

A subprocuradora-geral da República Lindôra Maria Araújo aponta o governador afastado como “chefe de uma organização criminosa” que teria praticado os crimes de corrupção ativa e passiva, fraude a licitações e peculato. Também foram denunciadas Helena Witzel e outras dez pessoas.

Anova denúncia tem anexos de imagens de anotações supostamente feitas por Witzel, indicando que ele teria conhecimento dos honorários pagos ao escritório advocatício de Helena Witzel por empresas ligadas ao esquema de corrupção. Essas anotações estavam em um caderno apreendido pela Polícia de uma bolsa da primeira-dama, no Palácio Laranjeiras. O documento mostraria que “Wilson Witzel acompanhava diretamente os pagamentos das referidas empresas para o escritório de Helena Witzel”, segundo um trecho da denúncia.

Ao apresentar a primeira denúncia contra Witzel, a PGR chegou a solicitar sua prisão preventiva ao Superior Tribunal de Justiça (STJ). No entanto, o relator do caso, ministro Benedito Gonçalves, autorizou apenas seu afastamento do governo por 180 dias. No último dia 2, a Corte Especial do STJ manteve a decisão.

A denúncia aponta o governador afastado Wilson Witzel como chefe de uma organização criminosa lastreada em três pilares. O primeiro grupo seria encabeçado pelo empresário Mário Peixoto; o segundo, pelo trio Pastor Everaldo, Edson Torres e Victor Hugo Barroso; e o terceiro, por José Carlos de Melo. Todos teriam oferecido vantagens indevidas para direcionar contratos.

De acordo com o depoimento de Torres, empresários do grupo entregaram R$ 980 mil em espécie a Witzel quando ele era juiz federal e a Lucas Tristão, ex-secretário de Desenvolvimento Econômico, que está preso. Após o início da campanha eleitoral e até o fim do segundo turno, Torres e Barroso teriam dado a Pastor Everaldo R $1,8 milhão, deforma parcelada.

Segundo a denúncia, o grupo que aportou recursos na campanha do então candidato do PSC teria “fatiado” secretarias e outros órgãos do estado “com o escopo de ter retorno econômico ”. Houve, em seguida, a montagem de uma “caixinha da propina” que, segundo Edson Torres, entre janeiro de 2019 e julho deste ano, arrecadou vantagens indevidas no valor de aproximadamente R$ 50 milhões. A divisão do dinheiro variava de acordo com o valor de contrato.

Em nota, Witzel afirmou: “Mais uma vez, trata-se de um vazamento de processo sigiloso para me atingir politicamente. Reafirmo minha idoneidade e desafio quem quer que seja a comprovar um centavo que não esteja declarado no meu Imposto de Renda, fruto do meu trabalho e compatível co maminha realidade financeira. Todo o meu patrimônio se resume à minha casa, no Grajaú, não tendo qualquer sinal exterior de riqueza que minimamente possa corroborar essa mentira”.

A defesa do Pastor Everaldo informou que não comentará trechos do processo, que corre em segredo de Justiça, mas ressaltou que não teve acesso à investigação e da delação que embasaram sua disso, reiterou confiança na Justiça. 

 IMPEACHMENT SEGUE

O processo de impeachment de Witzel deu mais um passo ontem na Assembleia Legislativa. O relator, deputado Rodrigo Bacellar (SDD), emitiu um parecer favorável à continuidade do julgamento, que será votado pela comissão especial amanhã. Caso a maioria de seus 25 integrantes seja favorável ao prosseguimento, o relatório será levado a plenário na próxima terça-feira.