O globo, n. 31816, 15/09/2020. Sociedade, p. 10

 

Governo federal reconhece emergência em MS

Gustavo Maia

Jéssica Moura

Leandro Prazeres

15/09/2020

 

 

Ato garante acesso do governo sul-mato-grossense a recursos da União para ações de socorro e recuperação dos incêndios que atingem o estado há mais de um mês; PF investiga responsáveis por queimadas no Pantanal

 O governo federal reconheceu ontem a situação de emergência decretada mais cedo em Mato Grosso do Sul, em decorrência dos incêndios florestais que atingem o estado há mais de um mês e consomem parte do Pantanal.

O ato foi publicado em portaria da Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil, ligada ao Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR), em edição extra do Diário Oficial da União, e já entrou em vigor.

O governador de Mato Grosso do Sul, Reinaldo Azambuja (PSDB), decretou situação de emergência em todo o estado pelo prazo de 90 dias, por conta de “propagação de fogo sem controle, em qualquer tipo de vegetação, em áreas legalmente protegidas e não protegidas, com queda da qualidade do ar”.

De acordo com o MDR, o reconhecimento garante que o governo estadual possa ter acesso a recursos da União para ações de socorro, assistência, restabelecimento de serviços essenciais à população e recuperação de infraestruturas públicas danificadas.

O secretário nacional de Proteção e Defesa Civil, Alexandre Lucas, que assinou a portaria, está em Mato Grosso do Sul desde o fim de semana. Segundo ele, os repasses vão custear transportes, combustível e locação de aeronaves para o combate aos incêndios.

OPERAÇÃO DA PF

Também ontem, a Polícia Federal cumpriu dez mandados de busca e apreensão nas cidades de Corumbá e Campo Grande, em Mato Grosso Sul nesta segunda-feira. A operação, batizada de Matáá, tem o objetivo de identificar os responsáveis por promover queimadas na região. Dados do Prevfogo, o Centro Nacional de Prevenção e Combate aos incêndios florestais do Ibama, em 2020 mostram que a área queimada no Pantanal já passa de 2,3 milhões de hectares, sendo 1,2 milhão em Mato Grosso e mais de 1 milhão em Mato Grosso do Sul. A extensão equivale ao território de Israel.

As investigações da PF recaem sobre cinco fazendeiros cujas propriedades se encontram em áreas remotas do Pantanal. Não há mandados de prisão expedidos, porém, podem ocorrer prisões em flagrante nos locais onde estão sendo feitas as buscas.

A suspeita é de que as queimadas em torno dessas cinco fazendas possam ter sido organizadas da mesma forma que o chamado “Dia do Fogo”, no ano passado, no Pará, quando fazendeiros teria se articulado para atear fogo em áreas da floresta amazônica.

O chefe da delegacia da PF em Corumbá, Alan Nascimento, disse que os indícios são de que as queimadas realizadas nessas fazendas foram intencionais.

—Elas ficam em áreas inóspitas que, de outra forma, dificilmente pegariam fogo. Os indícios apontam que esse fogo pode ter sido intencional —afirmou o delegado.

Nascimento afirmou que a polícia pretende analisar o conteúdo de e-mails e mensagens de texto enviados pelos fazendeiros e seus funcionários para averiguar se houve algum ti pode orquestração entre os proprietário spa radar início às queimadas na área.

O delegado disse que o volume das queimadas na região atrapalhou até a deflagração da operação. O planejamento previa que helicópteros fossem usados durante a ação, mas eles não puderam ser utilizados por conta da fumaça.

EFEITOS NO SUL E SUDESTE

A fumaça das queimadas no Pantanal e Amazônia continua a chegar às regiões Sul e Sudeste e podem trazer efeitos similares ao observado em agosto de 2019, quando o céu de São Paulo ficou escurecido no meio da tarde, e na Califórnia, onde ficou alaranjado após queimadas recentes.

Os efeitos devem ser mais notados nos próximos dias, quando há previsão de queda na temperatura e aumento da umidade, mas alterações como nascer e pôr do sol avermelhados e céu leitoso já são observados. Além dos efeitos meteorológicos, especialistas alertam que a fumaça é repleta de partículas tóxicas e prejudiciais à saúde.