Correio braziliense, n. 20947, 29/09/2020. Economia, p. 8

 

Ação da CEB dispara com anúncio de venda

Simone Kafruni

Carinne Souza

29/09/2020

 

 

O anúncio de privatização da Companhia Energética de Brasília (CEB), no último sábado, dia sem movimentação no mercado financeiro, provocou alta nas ações da empresa na abertura do pregão de ontem da Bolsa de Valores de São Paulo (B3). As ações da empresa, que fecharam em R$ 64, após atingirem um pico de R$ 69, na sexta-feira passada, subiram 23,5% ontem, cotadas em R$ 85. No meio do dia, no entanto, chegaram a atingir alta de mais de 30%, precificadas em R$ 94 na máxima.

A companhia brasiliense precisa de investimentos de R$ 200 milhões por ano, mas o movimento do mercado mostrou que a empresa, cujo preço mínimo é estimado em R$ 1,42 bilhão, desperta interesse dos investidores. No sábado, o Correio apurou que, ao menos, seis empresas devem disputar o controle da companhia: CPFL, Neoenergia, Equatorial, Energisa, Enel e EDP. O alto nível de renda da população atendida na capital federal é um diferencial da CEB.

Para o economista-chefe da GWX Investimento, Ciro Almeida, a privatização aqueceu o mercado de ações ao criar expectativa. “A venda traz uma valoração do preço da ação. A discussão e a expectativa fazem com que os papéis da CEB comecem a caminhar de maneira positiva", explicou.

Audiência

A CEB marcou para 14 de outubro, as 11 horas, audiência pública virtual para debater a desestatização, de acordo com informação publicada no Diário Oficial do Distrito Federal de ontem. O objetivo será prestar informações ao público, bem como receber sugestões e contribuições ao processo de privatização. O modelo será a alienação de participação societária, a exemplo do que o governo federal quer fazer com a Eletrobras.

O presidente da CEB, Edison Garcia, não quis comentar sobre os preços das ações da companhia, mas afirmou que a privatização pode reparar problemas estruturais e financeiros enfrentados pela distribuidora. “Precisamos prestar um serviço melhor aos brasilienses. E isso só acontece com investimentos, troca de equipamentos e preparação da companhia para rápidas demandas quando elas ocorrerem”, explicou. “O que temos visto na CEB é uma fadiga de material, incapacidade financeira de fazer novos investimentos, o que leva a um serviço cada vez pior”, reconheceu.

Garcia também afirmou que, quanto mais investimentos, maior a possibilidade de aumento da tarifa. “O movimento para evitar isso precisa ser a redução da inadimplência. E trazer para a legalidade as dezenas de milhares de unidades residenciais que não pagam a conta, as famosas ‘gambiarras’”, assinalou. Segundo Garcia, são cerca de R$ 90 milhões a R$ 100 milhões perdidos por ano com ligações irregulares.

Para o sócio-diretor da Focus Energia Henrique Casotti, mesmo com a possibilidade de aumento da tarifa a curto prazo, a movimentação ainda é positiva, porque haverá melhora tanto na qualidade, quanto no fornecimento e no atendimento aos consumidores. Além disso, na comparação entre empresas estatais e privadas, o melhor desempenho na entrega do serviço é da iniciativa privada, acrescentou. “As companhias do setor privado têm processos bem desenhados e bem mais eficientes. Com a privatização, ganha-se na qualidade e na eficiência do investimento", completou.

 Para o presidente da Associação Brasileira de Energia Elétrica (Abadee), Marcos Madureira, o resultado das privatizações no setor de distribuição é positivo. Os estados que entendem que a iniciativa privada tem melhores condições de gestão e de aporte de capital têm tido resultado positivo nos setores de distribuição de energia elétrica. “Isso não significa que as estatais sejam ineficientes, mas há maior facilidade na gestão da empresa com processos facilitados, e que não podem ser feitos nas estatais”, avaliou Madureira.

*Estagiária sob supervisão de Odail Figueiredo