Correio braziliense, n. 20941, 23/09/2020. Política, p. 4

 

Aliados aprovam mensagem

Vicente Nunes 

Luiz Calcagno 

23/09/2020

 

 

A ala militar do governo aprovou com louvor o discurso do presidente Jair Bolsonaro na Organização das Nações Unidas (ONU), ontem. Estão todos em êxtase, como diz um integrante do governo. “Foi tudo o que esperávamos. O presidente marcou posição, atacou críticos, sem ser agressivo”, acrescenta. Todo o discurso do presidente passou pelo crivo dos ministros militares, que, bem antes da participação dele na Assembleia-Geral da ONU, já vinham expressando a posição que seria apresentada pelo chefe de governo. “Creiam, atingimos nosso objetivo. O que estão fazendo com a imagem do Brasil é um crime”, ressalta um militar.

Na avaliação dos ministros militares, quem apoia o governo entendeu perfeitamente os recados. “E temos certeza de que aqueles que têm dúvidas ante a campanha internacional contra o Brasil passaram, agora, a comungar das posições do presidente”, acrescenta o mesmo militar.

Os militares acreditam que o governo conseguirá, com a postura mais firme de Bolsonaro, “mostrando a verdade”, reverter a imagem horrível que o Brasil está no exterior. “Não temos dúvidas de que demos visibilidade à nossa posição. O discurso do presidente foi um contraponto importante”, diz um assessor do Planalto.

 O próprio presidente, em conversa com militares, disse acreditar que seu discurso na ONU teve o efeito esperado e abriu espaço para o governo se posicionar de forma mais enfática no exterior. A determinação é repetir o discurso sempre que possível, até “virar verdade”. Dentro dessa estratégia, o Planalto escalou as representações do país no exterior para mapear toda a repercussão do discurso de Bolsonaro lá fora. Com base nas análises desses dados, serão definidas estratégias de comunicação para reverter o pessimismo com o Brasil.

“Estamos numa guerra de desinformação, e entramos nela certos de que podemos sair vencedores. A fala do presidente na ONU foi só o começo dessa batalha”, frisa o mesmo assessor.

Defesa no Congresso

No Congresso, o discurso do presidente ganhou a defesa de deputados bolsonaristas e membros do governo. Em seu perfil oficial no Twitter, o ministro-chefe da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, chamou Bolsonaro de “comandante” e repetiu o lema do chefe do Executivo. “Assisti ao discurso do nosso Comandante/Presidente @jairbolsonaro na Assembleia-Geral da ONU ao lado de colegas ministros e líderes do Governo. Senti um orgulho muito grande de pertencer a esse time! Brasil acima de tudo, Deus acima de todos!”

Já o assessor-chefe da Assessoria de Assuntos Internacionais do governo, Filipe Martins, fez uma publicação em inglês na qual afirmou que o presidente mostrou sua liderança e chamou o mundo para reconhecer a perseguição contra cristãos, chamada pela ala evangélica do governo de “cristofobia”. Ainda de acordo com o assessor, é preciso levantar a voz e agir contra o suposto acossamento a essa parcela da população. Já o deputado federal Carlos Jordy (PSL-RJ), também pelo Twitter, defendeu que Bolsonaro estaria “combatendo as narrativas falaciosas sobre o Brasil”.

Para o grupo, a principal polêmica girou em torno dos supostos US$ 1 mil que teriam sido pagos pelo governo aos beneficiários do auxílio emergencial para informais. O deputado federal Major Vitor Hugo (PSL-GO) chegou a apresentar cálculos para tentar convencer que o presidente teria realmente pago a quantia. Já a colega de bancada, Carla Zambelli (SP), apresentou números diferentes para chegar à mesma conclusão. Em ambos os casos, os parlamentares desconsideraram o fato de que nem todas as parcelas foram pagas e que nem todos os beneficiários receberão todas as parcelas.

Apesar disso, o cálculo se mostrará correto no caso das mães solteiras que receberem todas as parcelas dobradas, o que, no entanto, ainda não ocorreu. Vitor Hugo provocou: “Muitos esquerdistas falando sobre os 1.000 dólares do auxílio emergencial, citados pelo PR @jairbolsonaro no discurso na ONU. É compreensível... Eles não sabem fazer contas. A não ser para dividir propinas e quebrar estatais quando estão no poder. #BolsonaroONU Compartilha aí”.