Correio braziliense, n. 20940, 22/09/2020. Cidades, p. 16

 

Entrevista - Lídia Abdalla

Washington Luiz 

22/09/2020

 

 

Responsável por criar protocolos de segurança para o retorno das atividades em escolas e em empresas, a presidente executiva do Grupo Sabin, Lídia Abdalla, avalia que o sucesso da retomada das atividades durante a pandemia depende de fatores que vão além da testagem e das medidas de proteção individual. Em entrevista aoCB. Poder — uma parceria do Correio e da TV Brasília — de ontem, Lídia defendeu formas lúdicas de comunicação para que as crianças compreendam a importância de se respeitar medidas sanitárias.

Nas empresas, o foco, segundo ela, também deve ser uma comunicação efetiva para que os funcionários, a qualquer sinal de sintoma, mesmo que leve, procurem orientação médica. Apesar da queda no número de casos da doença no Distrito Federal, Lídia alerta: ainda é momento de cuidado e atenção.

O retorno gradual nas escolas particulares aqui do DF começou. Pensando nos colégios, quais as principais medidas que precisam ser seguidas?

O que a gente tem recomendado é que se utilize o máximo de ambientes ao ar livre. A gente passa também por um momento de mudança cultural quanto aos nossos costumes e hábitos. As medidas principais de proteção são garantir o distanciamento físico, o uso de máscaras e EPIs e higienização das mãos com água e sabão e, nas áreas onde não têm acesso à água e sabão, ter álcool em gel sempre à disposição. É muito importante que haja uma estrutura também de orientação e educação por parte dos pais, dos responsáveis e das famílias. Neste momento, essa deve ser uma parceria em conjunto dos pais com as escolas, não é um papel só da escola. Precisamos ensinar às crianças todos esses cuidados, essas recomendações. Pensando nisso, a gente tem orientado as escolas a criarem formas lúdicas de comunicação e informação. Cada criança, na sua faixa etária, vai ter uma forma de entendimento, de aceitação dessas orientações. É muito importante também falar com as crianças, além do uso de máscaras e da higienização das mãos, da importância do distanciamento.

A senhora acredita que os colégios estão preparados para essa testagem em massa e, de fato, é necessário testar todos os profissionais?

Cada escola está tomando as suas decisões de acordo com que tem sido orientado ou recomendado pelos órgãos governamentais de cada cidade, de cada região. Muitas escolas pedem para a gente fazer a testagem com o exame de sorologia, que é aquele que a gente vai ver a presença de anticorpos, sobretudo anticorpo IGG, que é o anticorpo que chamamos de imunidade. Esse exame de sorologia é capaz de nos dizer e de nos dar conhecimento de como está o status do grupo de funcionários e de imunidade dessas pessoas. Então, algumas escolas têm solicitado para fazer o IGG, sorologia, em todos os seus funcionários e professores. Isso é um auxílio importante, porque na hora de definir rodízios, escolher pessoas que vão trabalhar em uma área ou em outra, aquelas que já tiveram contato com o vírus, e que já estão teoricamente imunes, têm menor chance de se infectar novamente. É o que nós sabemos até o momento. Então, nós temos feito exames de sorologia, mas o recomendado também para o acompanhamento dessas pessoas que estão retomando é o exame de PCR a qualquer sinal de sintoma de coronavírus. Essa é uma recomendação nossa para as medicinas do trabalho e para orientação de funcionários e professores: além de todas as medidas de proteção e segurança, ter uma comunicação efetiva e eficaz para todos os funcionários. A qualquer sinal de sintoma, mesmo que leve, qualquer desconfiança, comunicar imediatamente à medicina do trabalho.

O ideal é combinar os dois tipos de exame e avaliar qual o mais adequado em cada momento?

O fato de você testar todo mundo e fazer sorologia para todas as pessoas não pode trazer uma falsa sensação de segurança. Na realidade, isso vai servir para a empresa, a escola, conhecer como está o estado de saúde dos seus colaboradores, da sua população de colaboradores, mas os cuidados continuam sendo os mesmos. O colaborador, o funcionário, o empregado, a qualquer leve sintoma, deve comunicar à escola ou sua empresa e ser afastado imediatamente e, aí sim, feito o exame de PCR para detecção de presença do coronavírus ou não. O que a gente recomenda também é esse rastreamento. A qualquer leve sintoma, a gente afasta o colaborador, faz o rastreamento, a identificação de todos os trabalhadores daquela área que tiveram contato nos últimos dias com o colaborador.

Que avaliação a senhora faz do cenário atual?

Falando especificamente, aqui do Distrito Federal, eu digo que nós fechamos, isolamos precocemente. Naquele momento, foi a melhor decisão a se tomar e realmente achatamos a curva. Ficamos muito tempo fechados, com isso, o pico no DF veio agora, mais recentemente, nos meses de julho e agosto. Agora a gente entra na redução do número de casos, mas sabemos que os cuidados devem continuar, porque o vírus continua circulante, não temos ainda vacina nem tratamento eficaz ainda.

Por ser uma doença nova, não se tem certeza de muitas coisas ainda. Mas a gente teria uma situação muito pior se não houvesse esse fechamento inicial?

Sem dúvida alguma, teria sido muito pior. Os médicos foram adquirindo mais conhecimento para também lidar e tratar os pacientes. Isso é muito importante. No período que ficou fechado, a gente teve uma maior estruturação do SUS, dos hospitais, da rede pública. De certa forma, isso foi importante em várias regiões do país e o Distrito Federal teve até mais tempo. A nossa maior preocupação é que sim, a gente percebe, nas últimas semanas uma leve queda no número de casos, mas o fato é: a gente está se estabilizando, mas nos estabilizamos num platô muito alto e a queda agora ocorre de forma muito lenta. Esperamos que a gente consiga melhores resultados nas próximas semanas, nos próximos meses.

Esse momento ainda é de atenção e de cuidado?

Sem dúvida, a gente conseguiu isolar grande parte da população nos diferentes estados. Cada estado, cada cidade teve sua taxa de isolamento. Olhando para o DF, mesmo a taxa de isolamento tendo caído, a gente tem pessoas que estão de fato ficando isoladas e protegidas. Várias pessoas ainda estão em home office, trabalhando a distância. Os cuidados são importantes para que gente possa voltar a vida quase normal.