Correio braziliense, n. 20940, 22/09/2020. Ciência & Saúde, p. 12

 

Redução de chuvas de até 30% no Hemisfério Sul

22/09/2020

 

 

Um estudo feito por pesquisadores brasileiros mostra que países do Hemisfério Sul podem sofrer com uma redução de até 30% de chuvas no final deste século. A pesquisa, publicada na revista especializada Scientific Reports, baseou-se em modelos climáticos de meados do período Plioceno, que ocorreu há 3 milhões de anos e tinha características semelhantes com o aquecimento enfrentado pelo planeta atualmente.

No Plioceno Médio, antes do surgimento do Homo sapiens, as temperaturas estavam entre 2°C e 3°C mais altas do que na era pré-industrial (por volta de 1850). As previsões de especialistas para o cenário atual se aproximam dessas condições caso os efeitos das mudanças climáticas não sejam mitigados. “As projeções atuais apontam para 3°C de aumento até o fim do século, quando as consequências podem se parecer com as simulações de meados do Plioceno”, enfatizam os autores.

As simulações mostraram que uma das mudanças mais notáveis ocorridas no Plioceno foi a diminuição das chuvas de verão do Hemisfério Sul, nas regiões subtropicais. “Essas mudanças resultam em trópicos e subtrópicos mais secos do que o normal” afirmam os autores. Outra alteração observada está associada a um aumento consistente das chuvas nos trópicos do Hemisfério Norte.

A curto prazo

Outros estudos recentes sinalizam impactos mais imediatos. De acordo com um relatório divulgado, em julho, pela Organização Meteorológica Mundial (OMM), a temperatura média global pode subir mais de 1,5 °C acima dos níveis pré-industriais até 2024. O relatório alerta para um alto risco de extrema variabilidade da precipitação em várias regiões nos próximos cinco anos, com algumas enfrentando secas e outras inundações.

O artigo atual, que tem Gabriel Marques Pontes, da Universidade de São Paulo (USP), como autor principal, recomenda que mais pesquisas sejam feitas para estimar a possível diminuição das chuvas na América do Sul. A sugestão é que as investigações considerem as mudanças na cobertura vegetal e analisem os efeitos combinados do desmatamento e do aquecimento.

Segundo Pontes, o estudo do qual ele fez parte é a primeira investigação a detalhar as mudanças nas chuvas do Hemisfério Sul em meados do Plioceno e tem efeitos práticos. “Compreender a circulação atmosférica e a precipitação durante os climas quentes do passado é útil para adicionar restrições aos cenários de mudanças futuras”, explica.