Correio braziliense, n. 20939, 21/09/2020. Mundo, p. 10

 

Milhares tomam as ruas contra Lukashenko

21/09/2020

 

 

Dezenas de milhares de pessoas protestavam, ontem, nas ruas de Minsk, capital de Belarus, contra a reeleição de Alexandre Lukashenko, apesar da repressão da polícia, que deteve cerca de 160 pessoas. Vestidos de vermelho e branco, as cores da oposição, os manifestantes marchavam pela Avenida dos Vitoriosos e se dirigiam para o Palácio da Independência, residência de Lukashenko, no norte da capital.

Desde a questionada reeleição de Lukashenko, em 9 de agosto, manifestações de magnitude histórica acontecem todos os domingos para exigir a renúncia do atual chefe de Estado, no poder há 26 anos.

As manifestações ocorreram apesar do grande deslocamento da polícia com veículos blindados, canhões de água e dezenas de agentes, que fizeram mais de 100 prisões na capital e mais de 50 em cidades do interior, em particular em Brest, Grodno e Gomel, segundo a ONG de defesa dos direitos humanos Viasna.

Imagens divulgadas durante a noite mostraram policiais às vezes levando manifestantes brutalmente para vans da força de segurança. Em Brest (sudoeste), a polícia usou gás lacrimogêneo e um policial jogou uma granada ensurdecedora contra a multidão, segundo o ministro do Interior. Em Minsk, o desfile foi realizado em clima de festa, com os manifestantes gritando “Limpem!”, Em alusão ao presidente. “Estando unidos e pressionando permanentemente, poderemos nos livrar de Lukashenko”, disse Valeri Kuptsevich, um aposentado de 72 anos.

No sábado (19), policiais do Batalhão de Choque prenderam centenas de mulheres durante uma manifestação na capital. De acordo com a porta-voz do Ministério bielorrusso do Interior, Olga Chemodanova, 415 pessoas foram presas em Minsk, e 15, em outras cidades, por participarem de “manifestações não autorizadas”. No total, 385 foram soltas, segundo a mesma fonte, acrescentando que os participantes de outras manifestações poderão ser alvo de ações judiciais.

O conselho de coordenação da oposição alertou para uma “nova fase com escalada da violência contra manifestantes pacíficos”. Ontem, Oleg Moisseev, membro do conselho e aliado próximo da líder da oposição Svetlana Tijanóvskaya, foi detido em Minsk durante a marcha, segundo Viasna. No sábado, foi a vez de Nina Baginskaya, uma ativista de 73 anos, que se tornou um dos rostos mais conhecidos do movimento. Ela foi liberada rapidamente.

A líder Svetlana Tikhanovskaya, agora refugiada na Lituânia, acusa o regime de fraude eleitoral. Hoje, ela  se reúne com os chanceleres da União Europeia, em Bruxelas. Está previsto o anúncio de sanções europeias contra personalidades bielorrussas consideradas responsáveis por manipulação nas eleições e pela repressão policial contra manifestantes.