Correio braziliense, n. 20933, 15/09/2020. Política, p. 4

 

PGR denuncia Witzel, a mulher e pastor

15/09/2020

 

 

A subprocuradora-geral da República Lindôra Araújo denunciou Wilson Witzel, ontem, por “chefiar” uma organização criminosa que desviava recursos públicos do Estado. A mulher do governador afastado do Rio, a advogada Helena Witzel, o presidente do PSC, Pastor Everaldo, e outros nove investigados também foram denunciados.

A ação se baseia nas operações Favorito, Placebo e Tris in Idem, que, segundo os investigadores, miraram esquema de desvio de verbas semelhante ao conduzido nas gestões dos emedebistas Sérgio Cabral e Luiz Fernando Pezão, ambos presos na Lava-Jato do Rio.

De acordo com a PGR, Witzel e Pastor Everaldo participavam do “núcleo político” da organização, e tinham participação ativa nos crimes conduzidos pelo grupo. O governador afastado é acusado de “lotear” recursos públicos para receber propina, que era lavada por meio do escritório de advocacia de sua mulher.

Afastado do cargo desde 28 de agosto, por liminar do ministro Benedito Gonçalves, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Witzel apresentou ontem um novo recurso ao Supremo Tribunal Federal (STF) para tentar ser reconduzido ao cargo. Pedido similar já havia sido feito antes, mas foi negado pelo ministro Dias Toffoli.

Além do “núcleo político”, a PGR cita um “núcleo econômico” do esquema que seria formado por empresários com interesses em contratos públicos — eles ofereciam propina em troca de licitações. Um terceiro grupo, o “administrativo”, era integrado pelos ex-secretários Edmar Santos, hoje delator, e Lucas Tristão. É apontado ainda o “núcleo financeiro-operacional”, responsável por lavar a propina –– é nele que se encontra Helena, conforme a Procuradoria.

Pastor Everaldo, que concorreu à Presidência da República em 2014, é acusado de instituir uma “caixinha de propinas” na área da Saúde, comandando orçamento, contratações, distribuição de cargos e pagamentos a prestadores de serviço e repasses a municípios.

Witzel disse que reafirma sua “idoneidade”. “Desafio quem quer que seja a comprovar um centavo que não esteja declarado no meu Imposto de Renda, compatível com a minha realidade financeira”. As defesas dos outros acusados não responderam até o fechamento desta edição.

E o deputado Rodrigo Bacellar (SD), relator do processo contra Witzel na Assembleia Legislativa do Rio, elaborou parecer favorável ao impeachment. O documento afirma que o governador afastado participou diretamente de atos que proporcionaram danos aos cofres públicos.