O globo, n. 31790, 20/08/2020. Sociedade, p. 10

 

Contágio desacelera no Brasil pela 1ª vez desde abril

20/08/2020

 

 

Estudo do Imperial College aponta, no entanto, que transmissão ainda não se estabilizou no país e recomenda cautela

 O ritmo de transmissão da Covid-19 está em desaceleração no Brasil pela primeira vez desde abril. Segundo dados do Imperial College, de Londres, a taxa de contágio (Rt) registrada no país na semana que começou no domingo (16), foi de 0,98 — o número indica para quantas pessoas, em média, cada infectado transmite o vírus.

O valor significa que cada 100 pessoas contaminadas contagiam outras 98, que por sua vez passam a doença para 96, essas para 94 etc., levando a uma desaceleração do contágio.

A boa notícia demanda cautela, já que a situação brasileira ainda não está classificada como estabilizada e pode voltar a subir, caso medidas de prevenção não sejam tomadas. Em julho, o país teve taxa de 1,01, uma situação definida como “fora de controle”.

O Chile é o único outro país na América Latina que apresentou Rt abaixo de 1 no cálculo do Imperial College: 0,85. O Paraguai passou a ser monitorado, registrando taxa de 1,95. Bolívia e Equador, que haviam reduzido os seus índices, voltaram a subir. Países europeus também viram seus números avançar, como Espanha e França.

Esta também é a primeira vez desde abril que o Brasil deixou de ser o líder em estimativas no número de mortes semanais. Agora, o primeiro lugar está com a Índia, onde são estimadas 7,2 mil mortes por semana. Por aqui, a expectativa é de que os óbitos chegem a 6,9 por semana. Os EUA têm diferente metodologia e, por isso, não entraram no cálculo 

No Brasil, já foram confirmados mais de 3,4 milhões de casos e 110 mil mortes, segundo o consórcio de veículos de imprensa, formado por O GLOBO, Extra, G1, Folha de S.Paulo, UOL e O Estado de S. Paulo, que reúne informações das secretarias estaduais de Saúde.

Uma pesquisa do Datafolha divulgada anteontem mostrou que, pela primeira vez, os brasileiros que acham que a situação da pandemia está melhorando no país são maioria.

CRENÇA NA MELHORA

Realizada em 11 e 12 de agosto, com 2.065 brasileiros adultos, em todas as regiões e estados do país, a pesquisa apontou que 46% acreditam que a situação está melhorando (eram 28% em 23 e 24/6); 43% acham que ela está piorando (65% em 23 e 24/6) e 8% creem que não está melhorando nem piorando (4% em 23 e 24/6); 3% não souberam responder, mesmo índice do levantamento anterior.

Embora se mostrem mais otimistas com relação ao avanço da pandemia no país, a maioria dos entrevistados acha que as pessoas deveriam se preocupar mais com o vírus Sars-CoV-2.

A grande maioria dos entrevistados disse usar máscara na rua, mas 48% deles disseram não ver outras pessoas usando o acessório com a mesma frequência.

O levantamento mostra que 61% acham que os brasileiros estão “menos preocupados do que deveriam” (eram 58% em 23 e 24/6); 21% acreditam que as pessoas estão preocupadas na medida certa (eram 20% em 23 e 24/6); 17% creem que a sociedade está mais preocupada do que deveria (eram 20% em 23 e 24/6) e 2% não sabem (mesma porcentagem da anterior).

Questões como isolamento social também foram abordadas. O levantamento revelou aumento de quem diz sair de casa para trabalhar ou fazer outras atividades e de quem está vivendo normalmente, embora este último item esteja dentro da margem de erro, que é de dois pontos percentuais.

A pesquisa mostra que 8% afirmaram estar totalmente isolados (eram 12% em 23 e 24/6). Já 43% declararam estar saindo só quando inevitável (eram 51% em 23 e 24/6). Tomando cuidado, mas ainda saindo de casa para trabalhar ou fazer outra atividade: 44% (em 23 e 24/6: 34%). Por fim, 6% afirmaram não ter mudado nada em sua rotina. (em 23 e 24/6, eram 3%).