O Estado de São Paulo, n.46274, 27/06/2020. Política, p.A8

 

Grupo da Lava Jato na PGR pede demissão

Breno Pires

Ricardo Brandt

Fausto Macedo

Paulo Roberto Netto

27/06/2020

 

 

Renúncia ocorre após subprocuradora-geral, braço direito de Aras, fazer ‘diligência’ em Curitiba para acessar dados das investigações

Procuradores que integram o núcleo da Operação Lava Jato na Procuradoria-Geral da República pediram demissão ontem por divergências com a condução dos trabalhos pela subprocuradora-geral, Lindora de Araújo, braço direito do procurador-geral, Augusto Aras. A renúncia ocorreu logo após “diligência” feita por Lindora na sede do Ministério Público Federal em Curitiba, segundo acusou a força-tarefa da Lava Jato.

Pediram demissão os procuradores Hebert Reis Mesquita, Luana Vargas de Macedo e Victor Riccely. O grupo era responsável pela condução de inquéritos envolvendo políticos com foro privilegiado no Supremo Tribunal Federal, além de atuar em habeas corpus movidos na Corte em favor dos investigados e a negociação de acordos de delação premiada. Segundo apurou o Estadão, as portarias de dispensa já foram assinadas.

Mais cedo, a força-tarefa da Lava Jato em Curitiba tinha enviado um ofício a Aras e à corregedoria da PGR acusando Lindora, braço direito de Aras, de ir à sede do Ministério Público Federal no Paraná para consultar arquivos que originaram a Lava Jato, em 2014. No documento, os procuradores alegam “estranhamento” pela “busca informal” de dados e o uso do nome da corregedoria do MPF.

O ofício presta “informações sobre reuniões e atos realizados pela subprocuradora-geral da República, Lindora Maria Araújo”, nos dias 24 e 25 deste mês, “em que se buscou acesso a informações, procedimentos e bases de dados desta força-tarefa em diligência efetuada sem prestar informações sobre a existência de um procedimento instaurado, formalização ou escopo definido”.

Além de Curitiba, o ofício para consulta de informações da Lava Jato foi enviado para as forças-tarefa do Rio e de São Paulo. Assim como no Paraná, a solicitação de dados inclui materiais de interesse para a PGR, como relatórios da Unidade Inteligência Financeira (UIF, antigo Coaf), dados de cooperações internacionais, entre outros.

A ação de Lindora foi considerada inusitada pela Lava Jato em Curitiba e um risco para os dados das investigações. No documento encaminhado a Aras, os procuradores alegam que, embora a subprocuradora-geral “tenha afirmado que não buscava a transferência de dados sigilosos, na reunião defendeu-se que o entendimento da equipe da PGR era de que materiais, mesmo obtidos mediante decisão judicial, podem ser compartilhados para acesso para fins de inteligência no âmbito do Ministério Público”.

Em nota, Lindora negou irregularidades na visita e disse que se tratava de uma reunião previamente agendada. “Não houve inspeção, mas uma visita de trabalho que visava à obtenção de informações globais sobre o atual estágio das investigações e o acervo da força-tarefa, para solucionar eventuais passivos” Segundo ela, não se “buscou compartilhamento informal de dados, como aventado em ofício dos procuradores”.

As forças-tarefa da Lava Jato no Paraná, São Paulo e Rio e da força-tarefa da Operação Greenfield divulgaram nota conjunta ontem na qual expressam “integral confiança” nos procuradores que pediram demissão ontem.

Ofício

“Não foi formalizado nenhum ofício solicitando informações ou diligências, ou informado procedimento correlato, ou mesmo o propósito do encontro.”

Procuradores da força-tarefa da Lava Jato

EM OFÍCIO A AUGUSTO ARAS