Correio braziliense, n. 20928, 10/09/2020. Saúde, p. 14

 

Nova vacina será testada no Brasil neste ano

10/09/2020

 

 

Até o fim do ano, ao menos 3 mil brasileiros participarão das pesquisas de uma nova vacina contra a covid-19. A substância foi desenvolvida pela Covaxx, subsidiária da United Biomedical, e já vem sendo testada com 60 voluntários em Taiwan. No Brasil, ocorrerão os estudos simultâneos de fase dois e três, com início previsto ainda em 2020.

Os testes serão financiados pela companhia de medicina diagnóstica Dasa e pela distribuidora de insumos Mafra, que doaram R$ 15 milhões para a realização dos estudos no país. Outros três patrocinadores — MRV, Localiza e Banco Inter — colaboraram com os R$ 15 milhões restantes. De acordo com Gustavo Campana, diretor médico da Dasa, a ideia é realizar as pesquisas em diversos centros médicos públicos e privados. As cidades ainda não foram escolhidas, e o critério será a prevalência de casos de covid-19.

Diferentemente das vacinas genéticas, que usam partes do RNA viral, a da Covaxx é à base de multiepítopos criados em laboratório, que induzem uma resposta tanto dos anticorpos quanto das células T, destruidoras das estruturas infectadas. Epítopos são a menor parte dos antígenos (substâncias presentes no patógeno), que desencadeiam a resposta imunológica no organismo. No caso da nova imunizante, ela é composta por peptídeos sintéticos que imitam dois epítopos do Sars-CoV-2. Quando inoculada, o corpo reage, como se estivesse em contato com o vírus invasor, e produz as substâncias que lutarão contra ele.

“Resposta robusta”

Os testes pré-clínicos, em animais, mostraram a ativação tanto das células T quanto de anticorpos neutralizantes, aqueles capazes de inutilizar o vírus. Segundo o cofundador da Covaxx, Peter Diamands, esses estudos indicaram uma resposta imune robusta. “Quatrocentas vezes mais títulos (anticorpos diluídos no soro) que os verificados no plasma convalescente (de pacientes que tiveram a doença)”, contou, em uma coletiva de imprensa. Atualmente, a vacina está em avaliação de fase 1 em Taiwan. Essa etapa consiste na investigação da segurança, embora também forneça indicadores de eficácia. A expectativa é de que os resultados saiam em novembro. Se forem positivos, começam os testes de fase dois e três no Brasil.

A cofundadora da Covaxx, Mei Mei Hu, afirmou que essa plataforma, baseada em peptídeos multiepítopos sintéticos, já foi testada em humanos, com segurança, em quatro estudos clínicos voltados a pacientes de Alzheimer e Parkinson. Segundo ela, a taxa de resposta foi de mais de 98%, com tolerabilidade e baixa toxicidade. Nesses casos, a tecnologia é a mesma, mas a composição visa um outro agente, para o qual se quer estimular a formação de anticorpos.

Diamands destacou que a plataforma da vacina permite a manufatura de bilhões de doses — a United Biomedical produz anualmente 5 bilhões de unidades de uma substância de uso veterinário que usa essa tecnologia. De acordo com ele, caso o imunizante, batizado de UB-612, seja bem-sucedido, a companhia garante a produção de 100 milhões de doses nos quatro primeiros meses de 2021, e 500 milhões até o fim do ano que vem. A companhia também destinará 10 milhões de unidades ao mercado privado brasileiro, depois da regulamentação na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e 50 milhões para o Sistema Único de Saúde (SUS).

A UB-612 será a terceira vacina testada no Brasil. Atualmente, o país realiza ensaios clínicos da substância chinesa (Sinovac) e da inglesa (Universidade de Oxford/AstraZeneca), essa última suspensa temporariamente até que sejam esclarecidas questões sobre um possível efeito colateral sofrido por um participante inglês. (PO)