Correio braziliense, n. 20927, 09/09/2020. Negócios, p. 7

 

Governo fixa data para auxílio

Fernanda Strickland 

Jailson R. Sena 

09/09/2020

 

 

A primeira parcela extra do auxílio emergencial, agora no valor de R$ 300 — ou de R$ 600 para mães que sejam chefes de família — começará a ser paga a partir de 17 de setembro aos beneficiários do Bolsa Família, seguindo o calendário do programa federal divulgado pela Caixa no início do ano.

De acordo com as novas regras, o governo vai verificar todos os meses se o trabalhador que estiver recebendo o auxílio de R$ 300 já voltou ao mercado formal, ou se obteve acesso a outro benefício social. Quem estiver nesses casos terá o pagamento suspenso. Para aqueles que não são beneficiários do Bolsa Família, o governo não informou datas.

A diminuição do valor do auxílio gerou questionamentos, sobretudo por causa da disparada dos preços dos alimentos. Dados da Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos realizada pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), indicam que, em agosto, os preços do conjunto de alimentos básicos, necessários para as refeições de uma pessoa adulta (conforme o Decreto-lei 399/38) durante um mês aumentaram em 13 das 17 capitais pesquisadas. Em outras quatro cidades, o custo diminuiu. Entretanto, os R$ 300 não compram a cesta básica em nenhuma das capitais pesquisadas.

Morador de Valparaíso de Goiás, o cabeleireiro Ariel Oliveira, 30 anos, considera injusta a diminuição do valor em um momento de alta no preço de itens da cesta básica.  “O governo deveria manter os R$ 600,00 que ainda não são suficientes para muitos que precisam”, opinou. Já a diarista Marcela Pereira, 34 anos, moradora de Sobradinho, disse que o benefício de R$ 600 ajudou nas finanças da casa, sobretudo porque ela passou a ser menos chamada para serviços e o marido ficou sem emprego na pandemia. Com a diminuição do valor, ela terá de aumentar o trabalho. “Terei de ter sorte e buscar novas diárias para conseguir comprar o básico”, afirmou.

Para o economista Marcel Pereira Bernardo, o auxílio emergencial surtiu efeitos positivos na economia. “Conforme avaliação do Ipea, sem o programa, mais de 23 milhões de brasileiros seriam empurrados para a pobreza. Além disso, o programa reduziu a desigualdade social”, observou.

O especialista alerta, porém, que é preciso atentar para o propósito do programa. “Trata-se de uma emergência e não pode ser visto como algo muito além disso. Os R$ 600 foram estipulados durante o período de maior gravidade da pandemia, porém, com a retomada da atividade econômica, espera-se que a necessidade do auxílio diminua, daí a mudança para R$ 300.”

O especialista ressalta que o auxílio de R$ 600 gerava um impacto mensal de R$ 50 bilhões nas contas públicas. “Para um país que enfrenta deficit fiscal há anos, isso é um desastre. Se o governo não consegue conter gastos, o endividamento aumenta e pressiona as taxas de juros. A tendência, portanto, é de que os juros aumentem em 2021 se não houver nenhuma contrapartida para reequilibrar as contas ainda em 2020.”

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PIB deve cair com fechamento de escolas 

09/09/2020

 

 

O fechamento das escolas durante a pandemia do novo coronavírus deverá trazer prejuízos até o final do século, e não apenas ao aprendizado dos estudantes. Segundo estudo feito pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento (OCDE), o Produto Interno Bruto (PIB) global pode ter uma queda média de 1,5% nesse período.

“A perda de aprendizagem levará à perda de habilidades que as pessoas têm em relação à produtividade”, diz o texto do documento, publicado ontem. O estudo pondera que, se as escolas demorarem a retomar os níveis de desempenho anteriores, as perdas podem ser proporcionalmente maiores, “O crescimento mais lento e a perda de habilidades nos alunos de hoje só será vista no longo prazo”, diz o texto.

“O PIB é, a grosso modo, o resultado do capital empregado (maquinário, equipamentos, ferramentas), da força de trabalho e da produtividade. Se tomarmos os dois primeiros fatores como constantes de um ano para o outro, vê-se que, caso a produtividade diminua, o PIB também vai diminuir”, comentaram Carlos Faria e Gabriel Viana, da Rio Claro Investimentos. “Como a educação afeta diretamente na produtividade da força de trabalho, os impactos da pandemia nas salas de aula provavelmente irão causar uma queda no PIB.”

Para os especialistas, é importante ter em mente a necessidade de investimentos em maquinário e ferramentas para recuperar o PIB. “Mas o investimento na educação também é relevante. Com uma melhor educação, a produtividade e, consequentemente, o PIB crescem”, afirmam.

No Brasil, a suspensão de atividades presenciais nas salas de aula começou em março. As escolas brasileiras ficaram fechadas por mais tempo do que a média dos outros países estudados e isso vai ter impactos na aprendizagem e desenvolvimento de habilidades dos alunos.

O estudo da OCDE destaca, ainda, que as desigualdades ficam mais evidentes devido à pandemia. Alunos privilegiados, com acesso à internet e a computadores, superam a distância das escolas, enquanto os mais desfavorecidos acabam ficando excluídos quando os estabelecimentos fecham. “Esta crise expôs as muitas inadequações e desigualdades em nossos sistemas de educação”, diz a OCDE.