Correio braziliense, n. 20923, 05/09/2020. Política, p. 6

 

Greenfield: procurador sai por divergências

05/09/2020

 

 

Ao divulgar prestação de contas, na quinta-feira, a força-tarefa da Operação Greenfield ( que investiga fraudes em fundos de pensão e atuou em apurações como a do bunker de R$ 51 milhões do ex-ministro Geddel Vieira Lima)  confirmou o afastamento do procurador natural Anselmo Henrique Cordeiro Lopes, e afirmou que enfrenta “cenário de grave deficiência estrutural e dificuldades” na Procuradoria-Geral da República. Ele trocou de ofício com Cláudio Drewes, procurador-chefe do Ministério Público Federal no Distrito Federal, e a mudança começa a valer na próxima terça-feira.

Lopes era o único procurador exclusivo da Greenfield, que, no início de seus trabalhos, tinha cinco integrantes que se dedicavam somente às investigações do grupo. Ele afirmou que sua saída foi motivada pela “insatisfação com a insuficiência de dotação de uma estrutura adequada de trabalho à força-tarefa”.

“Hoje, a Greenfield é um universo imenso de casos e investigações que envolvem cifras bilionárias (ou trilionárias, considerando que temos dados bancários que somam cerca de R$ 3 trilhões). A atuação da Greenfield restou bastante prejudicada pela recente decisão da Procuradoria-Geral da República de não mais prorrogar a desoneração dos colegas Sara Moreira e Leandro Musa, deixando-me como único membro exclusivo da força-tarefa Greenfield”, escreveu.

A mudança na Greenfield se dá em meio a um período delicado para outras operações. Na terça-feira passada, o procurador Deltan Dallagnol anunciou sua saída do comando da Lava-Jato em Curitiba por motivos pessoais. No dia seguinte, os procuradores da força-tarefa da operação em  São Paulo pediram demissão coletiva por “incompatibilidades insolúveis” com a procuradora natural do ofício ao qual o grupo é ligado.

No relatório das atividades realizadas pela equipe entre agosto de 2019 e julho de 2020, a Greenfield aponta, ainda, que o período foi “marcado por reduções na força de trabalho e por dificuldades na prorrogação” da operação pela PGR. Afirma que a equipe solicitou a prorrogação dos trabalhos por sucessivas vezes, tendo o procurador-geral Augusto Aras autorizado a continuidade das atividades no último dia de prazo previsto, mas deixando apenas um procurador dedicado às investigações.

Aras alegou que houve alteração da exclusividade dos procuradores Sara e Leandro por exigência dos procuradores-chefes (das unidades nos estados) em que eles são lotados. Segundo Aras, nem ele nem a PGR têm ingerência nesse tipo de situação.