O globo, n. 31784, 14/08/2020. Sociedade, p. 8

 

Estudo define diretrizes para volta gradual às aulas

Johanns Eller

14/08/2020

 

 

Ex-secretário de Vigilância em Saúde, Wanderson Oliveira defende diálogo aberto com pais e planejamento para retorno em 2021

Como Brasil estacionado em um platô demais de 50 mil casos e mil óbitos pela Covid-19 registrados diariamente, a discussão sobre a reabertura de escolas no país divide opiniões e aflige pais e mães que temem pela segurança de seus filhos. Um estudo encomendado pela Associação Brasileira de Escolas Particulares(Abe par ), coordenado pelo ex-secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, o epidemiologista Wanderson Oliveira, tem acompanhado iniciativas mundo afora para construir um entendimento para as redes pública e particular para um retorno “gradual e seguro” em 2021.

O trabalho, segundo Oliveira, é atualizado constantemente. Os autores argumentam que, com a quarentena prolongada, crianças podem ser vítimas de violência doméstica, gravidez infantil e até desenvolver depressão.

São citadas experiências bem-sucedidas, como a da Alemanha, e desastrosas, como Israel, que viu escolas servirem como epicentros de novos surtos depois que as máscaras deixaram de ser obrigatórias para os alunos. O retorno às atividades já é realidade em diferentes cidades brasileiras, como Manaus (AM).

De acordo com o epidemiologista, que integrou a gestão de Luiz Henrique Mandetta e a transição de sua administração para a de Nelson Teich, o debate sobre a retomada às aulas é urgente e não pode ser atropelado pela expectativa de uma vacina. O epidemiologista afirma que não recebeu dinheiro da associação para a coordenação do estudo e avalia que é preciso diálogo aberto com a sociedade.

—Mesmo que não se abram as escolas neste momento, é preciso que se discuta como, quando e em qual contexto reabrir. É um exercício para o ano que vem. Não dá para esperar por uma vacina. O que faremos para recuperar o ano que as crianças perderam?

Não pode se tornar um problema sindical — disse Oliveira. —É hipocrisia abrir shoppings e bares e ignorar escolas.

O estudo elenca premissas que, acompanhadas do monitoramento epidemiológico, devem ser seguidas para garantir um retorno seguro. O médico afirma que é preciso alinhar a reabertura das redes públicas e privadas para não agravar desigualdades já existentes no sistema educacional. A decisão final de encaminhar ou não os filhos à escola deverá ser dos responsáveis. Funcionários e alunos de grupos de risco serão preservados até que haja “segurança total”.

A testagem, avalia o ex-secretário, deveria ser garantida em todas as escolas para quem demonstrar sintomas gripais por meio de testes RT-PCR, que detectam o Sars-CoV-2.

Há, no entanto, o desafio logístico de adaptar colégios e a assegurar o distanciamento, condições de higiene pessoal e desinfecção de ambientes.

Oliveira reconhece o longo caminho até o cumprimento dessas garantias:

—Falta interlocução da Saúde com o MEC. Isso seria fundamental para uma diretriz nacional com o básico que todos deveriam seguir.