O globo, n. 31783, 13/08/2020. Sociedade, p. 22

 

Saúde adotará contra a Covid vacina que "chegar primeiro com eficácia”

renata mariz, paula ferreira, silvia amorim e elisa martins

13/08/2020

 

 

Segundo a pasta, serão levadas em consideração a capacidade de fornecimento para O Brasil e a transferência de tecnologia

 Apesar de ter fechado parceria para testar e produzir no país a vacina contra a Covid-19 desenvolvida pela Universidade de Oxford e pelo laboratório AstraZeneca, o governo brasileiro não quer se ater a ela como única solução para a crise de saúde.

O secretário de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, Hélio Angotti Neto, afirmou ontem que a pasta pretende usar a primeira vacina que se mostrar eficiente e segura contra o novo coronavírus.

— A preferência de adoção é a que chegar primeiro com eficácia e efetividade comprovada — disse. — Se tem 3, 4, 5, 15 opções de vacina, e essas 15 ajudarem o nosso povo, o governo vai atrás das 15. O fato de termos um acordo com um determinado parceiro não é impedimento para que fechemos acordo com outros.

O secretário disse que será levado em consideração se o laboratório que produz a vacina terá capacidade para fornecer o número de doses necessárias para o Brasil e se haverá a possibilidade de transferência de tecnologia, a exemplo do que foi acordado com a AstraZeneca.

—Nada impede que continue o processo de transferência tecnológica (com Oxford) e que o governo possa buscar outra vacina em paralelo. O que é importante é salvar o maior número de vidas o quanto antes.

Neto afirmou ainda que, uma vez adquirida uma vacina eficaz, toda a população terá acesso, sem exclusão de determinados estados. Os critérios serão definidos considerando ainda o volume de aquisição. Grupos de risco, por exemplo, podem ter prioridade.

 PARCERIA COM BUTANTAN

Outro imunizante que está sendo testado e poderá ser produzido no Brasil em caso de sucesso é o da empresa chinesa Sinovac, que fechou parceria com o Instituto Butantan, do governo de São Paulo. Uma equipe do Ministério da Saúde participará de uma reunião hoje no instituto paulista para discutir um acordo para distribuição.

O governador João Doria, que testou positivo para o novo coronavírus ontem, tem prometido para janeiro o início da vacinação no estado caso os testes em andamento em humanos sejam bem-sucedidos. Para iniciar a imunização, entretanto, São Paulo precisa de autorização da Anvisa, do governo federal.

— Essa vacina não é só importante para São Paulo. É importante para o país. Mesmo sendo um acordo entre a Sinovac e o governo do estado, assim que estiver disponível, ela estará para todos os brasileiros — disse o secretário estadual de Saúde, Jean Gorinchteyn.

Uma terceira possibilidade de vacina a ser produzida no Brasil foi confirmada ontem pelo governo do Paraná, que afirmou ter assinado um memorando de entendimento com o governo russo para aquisição e produção da vacina anunciada nesta semana pela Rússia, a primeira contra a Covid-19 e recebida com ressalvas pela comunidade científica internacional.

A eventual produção ficará a cargo do Instituto de Tecnologia do Paraná. Seu diretorpresidente, Jorge Callado, admitiu que ainda não há informações sobre a segurança e a eficácia da vacina russa, mas disse que o acordo só valerá, de fato, após acesso aos dados sobre testes e eficiência da imunização, o que não deve acontecer antes de um mês.

Questionado sobre como se dará a vacinação, com estados investindo em vacinas diferentes, o secretário de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde do Ministério da Saúde disse que a pasta pretende distribuir para todo o território nacional.

— Essa estratégia é nacional, então, quando pensamos ‘tal estado produziu a vacina dele’, o que atestarmos que tem qualidade, conseguirmos adquirir, vamos disponibilizar a toda a população brasileira. O critério é quem precisa mais, quem tem mais risco.