Correio braziliense, n. 20916, 29/08/2020. Cidades, p. 17

 

Comércio dá sinais de recuperação

Jéssica Eufrásio 

29/08/2020

 

 

Depois de encarar quatro meses em queda, desde que o novo coronavírus chegou ao Distrito Federal, comércio e serviços apresentaram alta nas vendas pela primeira vez. Em junho, na comparação com o mês anterior, o primeiro teve resultado positivo de 13,53%, enquanto o segundo, de 1,2%. Apesar da variação, o ramo de turismo ainda acumula prejuízos, após uma queda de 19,74%.

Os dados fazem parte de levantamento divulgado ontem pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Distrito Federal (Fecomércio/DF), com apoio do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae-DF). O balanço é o primeiro publicado pelas entidades depois de a maior parte das empresas receber autorização do GDF para reabrir, a partir do fim de maio.

Todos os 17 segmentos do comércio avaliados apresentaram alta. Os responsáveis por puxar os resultados para cima foram: farmácia, com 26% de aumento nas vendas; comércio varejista de bebidas (24%); além de cama, mesa e banho (20%). A pesquisa ocorreu entre 6 e 20 de julho, quando 700 empresários de 19 regiões administrativas do DF foram ouvidos. No entanto, a amostra de entrevistados foi menor em abril e em maio, devido às limitações impostas pela pandemia de covid-19. O total de entrevistados chegou a 542 em cada mês — 22% a menos do que os considerados para a pesquisa de junho.

A alta nos serviços revelou-se tímida. De 12 segmentos, quatro tiveram queda. Enquanto suporte em tecnologia da informação, vidraçaria e petshops apresentaram aumento de 13%, a diminuição da procura por atividades de condicionamento físico, organização de eventos, cabeleireiros, além de capacitação e treinamentos registrou perdas de até 30%. No caso do turismo, nenhum dos quatro tipos de atividades analisadas teve recuperação em junho.

Emprego

Além da flutuação no desempenho das vendas, a pesquisa analisou a variação na mão de obra, as formas de pagamento adotadas pelos consumidores e a expectativa dos empresários de contratação, demissão e investimento nos próximos três meses. Segundo as respostas dos entrevistados dos três setores, a perspectiva é de que o aumento nas contratações seja de apenas 1,15% no penúltimo trimestre do ano. Por outro lado, 20,3% devem investir financeiramente no próprio negócio.

A mão-de-obra ocupada teve variação negativa de 3% em junho, na comparação com maio. No comércio, só lojas de ferragens e ferramentas (4,35%); estabelecimentos de vestuários e acessórios (3,85%); além de minimercados, mercearias e armazéns (2,84%) abriram novos postos de trabalho. Em turismo e serviços, não houve alta na quantidade de contratados. Considerado todo o DF, Águas Claras, Guará, Núcleo Bandeirante e Vicente Pires foram as únicas macrorregiões onde houve contratação.

Em só 11% dos estabelecimentos os motivos para aumento da equipe se deveram ao crescimento nas vendas. A justificativa da maioria (79% dos entrevistados) foi suprir defasagens no quadro de funcionários. Quanto às demissões, o corte de despesas representou a principal razão (48%), seguida da redução nas vendas (20%). Outras 20% ocorreram por vontade do próprio funcionário ou devido à mão de obra sem qualificação.

Professor de finanças do Ibmec Brasília, William Baghdassarian explica que os números precisam ser bem interpretados, pois a recuperação leva em conta um patamar anterior, que estava muito baixo. “Imagine se você tem 100 vendas em um mês. Se perdeu 20% delas, suas vendas caem para 80. Para voltar às 100, você tem de ter um crescimento de 25%. Os números não indicam que se recuperou o que o comércio era em maio. Tivemos um pequeno crescimento, e isso é muito positivo, mas eles refletem uma situação de fragilidade do setor”, observa.

William acrescenta que a incerteza quanto à duração da crise impede investimentos a longo prazo. “Uma consequência negativa é de que, à medida que o tempo passa e essa retomada não acontece de forma vigorosa, algumas empresas vão ficando sem condições de continuar”, diz. “Apesar de termos a sensação de que, em Brasília, todo mundo é funcionário público, eles são minoria. A grande parte da população é de profissionais liberais, comerciantes, empregados de empresas privadas. Para eles, há um risco muito grande.”