Correio braziliense, n. 20912, 25/08/2020. Política, p. 4

 

Deputada ré em assassinato

Sarah Teófilo 

25/08/2020

 

 

A deputada federal Flordelis Souza (PSD-RJ) é agora ré no caso do homicídio do seu então marido, o pastor Anderson do Carmo. Ela foi denunciada pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) e a Justiça acatou ontem a denúncia. A parlamentar é apontada como mandante do crime. A Justiça determinou a prisão preventiva de seis filhos e uma neta da parlamentar — um deles, Flávio dos Santos, já estava preso, apontado como executor do assassinato.

Na manhã de ontem, o MPRJ e a Polícia Civil do Rio deflagraram a Operação Lucas 12 para cumprir as ordens de prisão, além de realizarem 14 buscas em endereços ligados aos denunciados em Niterói, São Gonçalo, Rio de Janeiro e Brasília. No total, foram nove mandados de prisão preventiva e 11 pessoas (incluindo a parlamentar) foram denunciadas.

O MPRJ frisou que não pediu a prisão da deputada pelo fato de ela ter imunidade parlamentar, podendo ser presa somente em flagrante ou quando o processo tiver transitado em julgado. Ela vai responder por homicídio triplamente qualificado, tentativa de homicídio, associação criminosa, falsidade ideológica e uso de documento falso.

Dois dos filhos socioafetivos de Flordelis –– André Luiz e Carlos Ubiraci –– são também secretários parlamentares da deputada. Ambos estão no cargo desde março do ano passado e recebem, cada um, R$ 15,7 mil. Os mandados foram cumpridos em apartamento funcional da Câmara.

A investigação do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco-RJ), do MPRJ, aponta o envolvimento dos denunciados no homicídio de Anderson, em 16 de junho de 2019, em Niterói, no Grande Rio. No caso de Adriano dos Santos, Andrea Santos e Marcos Costa, o envolvimento foi posterior, quando Flordelis tentou fazer com que um dos seus filhos adotivos, Lucas Cézar, assumisse a autoria do crime e indicasse outros como mandantes.

O MP-RJ aponta que Flordelis arquitetou o assassinato, tendo convencido o executor direto (seu filho biológico Flávio dos Santos) e os demais acusados a participarem do crime e simular um latrocínio (roubo seguido de morte). A parlamentar teria também comprado a arma e avisado que o então marido havia chegado em casa.

Conforme o MPRJ, o motivo do homicídio seria o fato de a vítima ter um “rigoroso controle das finanças familiares e administrar os conflitos de forma rígida, não permitindo tratamento privilegiado das pessoas mais próximas a Flordelis, em detrimento de outros membros da numerosa família”.

De acordo com a denúncia, as ações dos envolvidos são descritas em diferentes etapas “como no planejamento, incentivo e convencimento para a execução do crime”.

Envenenamento

Entre maio de 2018 e junho de 2019, segundo o MPRJ, Flordelis, Marzy, Simone, André e Carlos envenenaram Anderson em pelo menos seis ocasiões diferentes. Conforme os promotores, eles tentaram matá-lo “mediante ministração dissimulada, continuada e sucessiva de veneno nas comidas e bebidas da vítima, em doses cumulativas eficazes, com objetivo de produzir ao final o resultado morte, provocando intoxicação exógena”.

De acordo com o MPRJ, o crime não se consumou por “circunstâncias alheias à vontade dos agentes”.

O advogado de Flordelis, Anderson Rollemberg, reafirmou que sua cliente é inocente. Ele esteve na Delegacia de Homicídios de Niterói e disse que a deputada está “abatida e bastante chateada”. “Queremos saber quais são as provas para que essas prisões tenham ocorrido e quais são os fundamentos para o indiciamento da deputada, uma vez que a primeira fase dessa investigação passou longe de ter alguma prova que ela fosse a mandante. Essa investigação é contraditória, espetaculosa e está sendo usada como inquisição”, acusou Rollemberg.

O presidente do PSD nacional, Gilberto Kassab, informou, em nota, que o partido estudará a expulsão da deputada a partir dos desdobramentos perante a Justiça. Segundo o presidente da legenda, o partido trabalha para a suspensão imediata da filiação de Flordelis. O presidente do diretório estadual, senador Arolde de Oliveira (RJ) –– evangélico como Flordelis ––, afirmou que acompanhará as ações da sigla nacional.

O Correio entrou em contato com o gabinete da deputada para pedir mais esclarecimentos, mas até o fechamento desta edição não obteve resposta.