O globo, n. 31777, 07/08/2020. Sociedade, p. 9

 

Medida Provisória libera R$ 2 bilhões para possível vacina contra Covid-19

Gustavo Maia

07/08/2020

 

 

lmunizante de Oxford, considerado pela OMS um dos mais promissores e na última fase dos ensaios clínicos, também ganhou acordo para produção de 100 milhões de doses na China

 O presidente Jair Bolsonaro editou uma Medida Provisória (MP) ontem que libera cerca de R$ 2 bilhões em crédito extraordinário para a produção e disponibilização de possível vacinacontraaCovid-19,emfasedepesquisa.A MP foi assinada por Bolsonaro em evento no fim da tarde, no Palácio do Planalto.

— Hoje, o governo federal reforça mais uma vez o seu compromisso em salvar vidas. Com a sua assinatura nessa Medida Provisória, estamos garantindo a aplicação de recursos em uma vacina que tem se mostrado a mais promissora do mundo. O investimento é significativo, não apenas no seu valor, quase R$ 2 bilhões, mas também aponta para a busca de soluções que permitam ao Brasil desenvolver tecnologias para a proteção dos brasileiros — declarou o ministro interino da Saúde, Eduardo Pazuello.

O governo informou que decidiu assumir parte dos riscos tecnológicos do desenvolvimento da vacina, por haver “enorme demanda global pelo produto” e o futuro acesso prioritário do Brasil estar vinculado “a empreendimentos de caráter internacional para que seja desenvolvida”. Caso a eficácia e segurança do produto sejam comprovadas, a compra será ampliada. “O governo considera que esse risco de pesquisa e produção é necessário devido à urgência pela busca de uma solução efetiva para manutenção da saúde pública e segurança para a retomada do crescimento brasileiro”, informou a Secretaria-Geral da Presidência.

O imunizante é o do laboratório AstraZeneca, em parceria com a Universidade Oxford, que está em teste no Brasil e será produzido pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) a partir do fim do ano. A vacina passa por estudo clínico no Rio, na Bahia e em São Paulo, onde as pesquisas são lideradas pela Unifesp, e a infraestruturamédicaedeequipamentoséfinanciada pela Fundação Lemann. No Rio, os testes ficam a cargo do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino e da Rede D’Or, que vai cobrir os custos desta fase da pesquisa. A transferência de tecnologia de formulação, o envasilhamento e o controle de qualidade serão realizados por meio de contrato entre a Fiocruz, fundação do Ministério da Saúde, eaAstr aZ e neca. Op roje toé considerado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) um dos mais promissores e está na última fase dos ensaios clínicos.

A AstraZeneca anunciou ontem acordo com ac hines aShenzhenKangt ai Bio logical Products, que produzirá no país asiático a vacina feita em parceria coma Universidade de Oxford. A empresa já assinou acordos similares com outros países além do Brasil, como Estados Unidos, Reino Unido e Corei ado Sul. As tratativas fechadas pela farmacêutica britânica já garantiram 2 bilhões de doses. O acordo determina que aShenzhenKangt ai, umadas maiores produtoras de vacinas da China, garantirá sua capacidade de produção anual em um patamar de 100 milhões de doses da vacina da AstraZeneca até o fim do ano. A tratativa sela mais um avanço no planejamento de imunização pelo governo chinês, que fechou resoluções similares com outras companhias ocidentais, como a alemã BioNTech e a americana Inovio Pharma.

EUA AMPLIAM INVESTIMENTO

O governo dos EUA anunciou na quarta-feira um investimento de US$ 1 bilhão (R$ 5,3 bilhões) no projeto de vacina da Johnson & Johnson. Em troca, os americanos terão a garantia de acesso a pelo menos 100 milhões de doses em caso de sucesso. No final de março, a empresa já havia recebido US$ 456 milhões (R$ 2,4 bilhões) por meio de sua subsidiária Janssen. Com este último montante, o governo de Donald Trump já investiu pelo menos US$ 9,4 bilhões (R$ 50 bilhões) em projetos de vacinas, incluindo contratos de fornecimento assinados com cinco empresas. O governo dos EUA também gastou bilhões de dólares na construção de fábricas de frascos e seringas, material necessário para distribuir as futuras vacinas. Os EUA também compraram quase toda a produção do Remdesvir até setembro, tido como uma aposta promissora no tratamento contra a Covid-19.

Uma cooperação entre o laboratório estatal chinês Bio Farma e a SinoVac Biotech, que desenvolveu a fórmula testada pelo Instituto Butantan no Brasil, coordenará um ensaio clínico em humanos na Indonésia a partir da próxima semana. O imunizante chinês é considerado um dos mais avançados do mundo, junto das vacinas candidatas da AstraZeneca, Moderna, Novavax e Pfizer. O lançamento da iniciativa coincide com a recente escalada no número de casos da Covid-19 no país, que encontra dificuldades no combate à doença.

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“Mas vamos tocar a vida”, diz Bolsonaro, sobre marca de 100 mil mortes

07/08/2020

 

 

Ontem, ao comentar a perspectiva do Brasil de chegar aos 100 mil mortos por Covid-19 neste fim de semana, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que “a gente lamenta, mas vamos tocar a vida”.

O país ultrapassou ontem as 98 mil mortes pela doença. Segundo levantamento do consórcio de veículos de imprensa formado por O GLOBO, Extra, G1, Folha de S.Paulo, UOL e O Estado de S. Paulo, já foram registradas 98.644 vidas perdidas para o novo coronavírus e 2.917.562 pessoas infectadas.

—A gente lamenta todas as mortes, está chegando ao número de 100 mil talvez hoje, é isso? —disse Bolsonaro, em transmissão ao vivo ao lado do ministro interino da Saúde, Eduardo Pazuello, que disse que a marca seria provavelmente alcançada nesta semana. — Mas vamos tocar a vida, tocar a vida e buscar uma maneira de se safar desse problema.

Mais cedo, ao editar a Medida Provisória que liberou crédito para a vacina contra o coronavírus, o presidente havia dito que “fizemos o possível e o impossível para salvar vidas”.

— A nossa contrapartida, basicamente, é financeira no momento, com algumas pessoas também, quase R$ 2 bilhões. Talvez em dezembro, janeiro, exista a possibilidade da vacina, e daí esse problema estará vencido poucas semanas depois — afirmou Bolsonaro, fazendo uma crítica ao governador de São Paulo, João Doria (PSDB), em seguida:

— E o que é mais importante nessa vacina, diferente daquela outra que um governador resolveu acertar com outro país, vem a tecnologia pra nós. E, junto com os meios que nós temos, nós temos como realmente dizer que fizemos o possível e o impossível para salvar vidas, ao contrário daqueles que teimam em continuar na oposição desde 2018, dizer o contrário.