O globo, n. 31769, 30/07/2020. País, p. 14

 

Lava-lato reage às críticas de Aras: citação falsa”

Aguirre Talento

Bela Megale

Natália Portinari

30/07/2020

 

 

Para força-tarefa de Curitiba, procurador-geral fez “declarações inverídicas”; mais tarde, a senadores, chefe do MPF voltou a reprovar atuação dos investigadores e não deu certeza sobre renovação do grupo

 Procuradores da força-tarefa da Operação LavaJato em Curitiba reagiram ontem às críticas do procurador-geral da República, Augusto Aras. De acordo com o grupo, o chefe do Ministério Público Federal (MPF) fez “declarações inverídicas”, e a tentativa de interferência no trabalho deve ser refutada.

“A ilação de que há ‘caixas de segredos’ no trabalho dos procuradores da República é falsa, assim como a alegação de que haveria milhares de documentos ocultos”, escreveram os procuradores, em nota.

Na terça-feira, Aras havia dito que havia “segredos” em Curitiba, com dados de 38 mil pessoas e arquivos que, em tamanho, superam o que é armazenado por todas as unidades do MPF. O procurador-geral afirmou ainda que tinha o objetivo de dar “transparência” a essas informações. A força-tarefa afirma que todos os documentos estão registrados em sistemas eletrônicos e são acessíveis às corregedorias.

Os procuradores também afirmaram que “é falsa a suposição de que 38 mil pessoas foram escolhidas pela força-tarefa para serem investigadas”. De acordo com a nota, o número se refere a pessoas físicas e jurídicas mencionadas em relatórios encaminhados pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf ).

A força-tarefa diz ainda que a “extensão da base de dados só revela a amplitude do trabalho até hoje realizado na operação Lava-Jato e a necessidade de uma estrutura compatível”. Segundo a nota, todo o material em poder dos investigadores foi colhido seguindo os trâmites legais.

Mais tarde, em uma audiência com senadores, Aras voltou a criticar a força-tarefa, segundo relatos de participantes da reunião. O procurador-geral disse no encontro que “República não combina com heróis” e que a distribuição de processos na Lava-Jato é passível de fraude.

Aras também fez críticas a operações de busca e apreensão da Polícia Federal em gabinetes de parlamentares, como as recentes ações contra o senador José Serra (PSDB-SP) e a deputada Rejane Dias (PT-PI).

Depois da repercussão das declarações de terça-feira, feitas durante uma transmissão ao vivo com advogados críticos à Lava-Jato, Aras foi procurado por senadores e se colocou à disposição para participar da reunião por videoconferência.

— O procurador-geral alterna críticas agudas à Lava Jato, em especial referentes à força-tarefa, e elogios ao combate à corrupção e ao legado da Lava-Jato. No meu entender, as respostas foram insuficientes — disse o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE).

PEDIDO DE RENOVAÇÃO

Aras foi questionado pelos senadores sobre a renovação da força-tarefa da LavaJato de Curitiba, cujo prazo vence em setembro, mas evitou responder diretamente à pergunta e citou que seus antecessores na PGR foram pressionados para renovar o grupo.

— Ele não deu nenhuma garantia de que vai renovar a força-tarefa de Curitiba — afirmou o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP).

Ontem, a 5ª Câmara de Coordenação e Revisão da PGR, órgão que coordena os trabalhos do MPF na área de combate à corrupção, enviou um ofício a Aras solicitando a manutenção da estrutura das forças-tarefas de combate à corrupção, incluindo a Lava-Jato, e a prorrogação desses grupos por pelo menos seis meses.