Correio braziliense, n. 20907, 20/08/2020. Política, p. 3

 

Busca por diálogo com o Congresso

Augusto Fernandes 

20/08/2020

 

 

Em mais uma tentativa de aproximação com o Congresso, o presidente Jair Bolsonaro passou boa parte da manhã e da tarde de ontem ao lado de parlamentares de diferentes siglas. Depois de se reunir a portas fechadas para um café com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), no Palácio da Alvorada, o chefe do Executivo recebeu cerca de 40 congressistas, entre deputados e senadores, para um almoço no Planalto.

A conversa com Maia foi centrada em pautas econômicas. Afirmando a intenção do governo em estender o auxílio emergencial até o fim do ano, Bolsonaro comentou que deve propor uma redução no valor do benefício, atualmente em R$ 600, para viabilizar a continuidade do programa sem causar mais prejuízos aos cofres públicos.

O presidente informou a Maia que a ideia do governo é editar uma medida provisória para alterar o valor do auxílio emergencial, já que a lei que instituiu a ajuda só permite a prorrogação do programa por meio de decreto se o benefício for mantido em R$ 600, como aconteceu na primeira renovação, em junho.

Os dois também discutiram sobre as reformas tributária e administrativa. Maia se mostrou disposto a facilitar a tramitação dos temas no Congresso, mas pediu que o governo apresente as suas propostas com mais rapidez. O deputado disse, ainda, estar do lado do ministro da Economia, Paulo Guedes, sobretudo na defesa de um rigor maior nos gastos públicos. Apesar disso, o parlamentar sinalizou não ser a favor da ideia do governo de criar um tributo sobre transações eletrônicas, que tem sido tratado como uma nova versão da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF).

Parlamentares

O almoço no Planalto reuniu deputados e senadores líderes de legendas, como MDB, DEM, PP, PSL, PTB, PL e Republicanos, segundo parlamentares que estiveram no encontro. Além disso, alguns ministros de Bolsonaro compareceram à reunião, como o da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos; o da Casa Civil, Walter Braga Netto; o das Comunicações, Fabio Faria; e o da Infraestrutura, Tarcísio Freitas.

Bolsonaro convidou o senador Marcos Rogério (DEM-RO) para ser o novo vice-líder do governo no Congresso no lugar do deputado Ricardo Barros (PP-PR), que foi nomeado líder do governo na Câmara nesta semana. “Eu já sou aliado do presidente, tenho ajudado dentro do Senado e no Congresso. Para mim, essa investidura representa o reconhecimento do governo e não vai representar nenhuma mudança de posição. Se ele efetivar a nomeação hoje ou amanhã, estarei pronto para servir ao país”, disse Rogério, ao Correio.

Alguns dos congressistas que estiveram no almoço, contudo, afirmaram que, de modo geral, o encontro foi uma cerimônia mais informal, sem tanta discussão sobre projetos e programas. Mesmo assim, serviu para que o presidente ampliasse a sua aceitação dentro do Parlamento.

A tendência é de que encontros assim voltem a se repetir mais vezes, disse o deputado Fábio Ramalho (MDB-MG), que organizou o evento. “Eu acho que é uma maneira de o presidente dialogar mais com o Parlamento. O presidente tem de ter uma relação maior com o Congresso Nacional para que as soluções se concretizem, e tantos os líderes como os presidentes das Casas possam discutir o que eles acham e dar conselhos.”