O Estado de São Paulo, n.46262, 15/06/2020. Internacional, p.A7

 

Morte de negro em Atlanta gera nova onda de protestos antirracistas nos EUA

15/06/2020

 

 

Revolta. Manifestações contra a brutalidade e o preconceito policial ganham força após mais um caso de afro-americano morto pela polícia em uma ação com uso de força excessiva; chefe de polícia da cidade pediu demissão após assassinato de Rayshard Brooks

Levante. Unidade do restaurante Wendy’s queimada após um negro ser morto por um policial branco no estacionamento

Em meio aos protestos que ainda se espalham pelo mundo contra o racismo e a brutalidade policial após o assassinato de George Floyd, a morte de um homem negro pela polícia em Atlanta ameaça desencadear uma nova onda de atos contra o racismo nos Estados Unidos.

O caso aconteceu na madrugada de sexta para sábado, quando um policial matou Rayshard Brooks, um jovem de 27 anos, enquanto tentava prendê-lo, segundo autoridades locais.

Vídeos divulgados ontem mostram a ação dos policiais, enviados para um restaurante Wendy's por uma denúncia sobre um homem estacionado e dormindo no drive-thru. Os policiais realizaram um teste de bafômetro em Brooks, que estaria embriagado. Quando os policiais tentam prendê-lo, há uma briga. Brooks e dois policiais caem no chão, e ele toma o taser, uma arma de choque, de um deles.

No vídeo, um dos policiais é visto perseguindo Brooks. Depois de alguns metros, Brooks volta-se para o oficial e parece apontar a arma de choque para ele, momento em que o oficial sacou uma arma do coldre e disparou contra Brooks. Uma ambulância chega mais tarde e leva Brooks embora. Brooks foi levado para um hospital, onde morreu após a cirurgia.

A chefe de polícia da cidade, Erika Shields, renunciou depois do caso. A prefeita democrata Keisha Lance Bottoms criticou a ação policial. “Não acredito que se justificasse o uso de força letal”, disse.

O episódio aconteceu enquanto os Estados Unidos enfrentam um debate histórico sobre o racismo, em meio a grandes protestos gerados pelo assassinato, em 25 de maio, de George Floyd, um homem negro de 46 anos, pelo policial branco Derek Chauvin. Desarmado e jogado ao chão, Floyd morreu depois que o policial de Minneapolis o sufocou ao pressionar com o joelho seu pescoço por quase nove minutos.

Os protestos que se espalharam pelo país primeiro e depois pelo mundo e levaram a debates sobre os legados da escravidão, do colonialismo e da violência da polícia contra negros e outras minorias, bem como sobre a militarização da polícia nos Estados Unidos.

Em outras cidades americanas e do mundo, os ativistas continuaram a protestar. Em Minnesota, Nova York, Chicago, Paris e Zurique, manifestantes marcharam pelas ruas e exigiram o fim da injustiça racial e da brutalidade policial. Em Palmdale, Califórnia, onde um homem negro de 24 anos foi encontrado pendurado em uma árvore – em ato que lembra as execuções racistas da Ku Klux Klan – na semana passada, manifestantes se reuniram no sábado para cobrar as autoridades locais.

O terceiro fim de semana de protestos em Chicago virou-se para um lado da cidade que raramente leva as pessoas a marchar na rua: Jefferson Park, um bairro localizado no extremo noroeste da cidade, ocupado em sua maioria por policiais, bombeiros e trabalhadores de forças de segurança.

“Esta não é a primeira vez que um negro é morto por dormir”, disse o reverendo James Woodall, presidente na Geórgia da Associação Nacional para o Progresso de Pessoas de Cor. “Embora Atlanta seja frequentemente chamada de ‘Meca Negra’, o Departamento de Polícia de Atlanta tem uma história contínua de antagonizar nossas comunidades.”

O candidato presidencial democrata Joe Biden não comentou especificamente o caso de Atlanta, mas tuitou no sábado que “precisamos de uma reforma real do policiamento – e precisamos dela agora”. / NYT e W.POST

Repetição

“Esta não é a primeira vez que um homem negro é morto por dormir”,

Reverendo James Woodall

ASSOCIAÇÃO NACIONAL PARA O PROGRESSO DE PESSOAS DE COR