O globo, n. 31767, 28/07/2020. País, p. 7
Os efeitos da política para a imagem do país no mundo
28/07/2020
Para debatedores, ações desastrosas do governo Bolsonaro na questão ambiental e no combate a pandemia causaram dano grave
Norteada pela polarização política, a postura do presidente Jair Bolsonaro tem, segundo os participantes do debate “Política para democracia”, contribuído para prejudicar a imagem do Brasil no exterior, sobretudo na conduta do governo no combate à pandemia e na adoção de políticas relacionadas ao meio ambiente.
Os colunistas Guga Chacra e José Eduardo Agualusa consideram, inclusive, que o país se transformou em “pária internacional” e que o dano “já não tem conserto” e que durará muito tempo. Já o ministro Luís Roberto Barroso sustentou que a situação pode ser revertida — “para sempre é muito tempo”, disse ele —, opinião referendada por Lauro Jardim.
Presidente da Câmara, Rodrigo Maia foi outro que reconheceu que o Brasil vive um problema de imagem, mas também disse achar um exagero falar que é definitivo.
COMPARAÇÃO COM VENEZUELA
Guga argumentou que o país se tornou pária nas questões do meio ambiente, como na falta de política para proteção da Amazônia, e da pandemia da Covid-19 — o Brasil tem mais de 2,4 milhões de casos confirmados da doença e mais de 87 mil mortes devido ao novo coronavírus. O colunista lembrou que pessoas oriundas do país estão hoje impedidas de entrar na Europa e nos Estados Unidos, por questões sanitárias.
— Acho que a imagem do Brasilestádesgastadapormuito tempo, assim como a da Venezuela ficou com Maduro. Hoje o Brasil é um pária internacional —disse Guga.
O angolano Agualusa concordou.
— O governo Bolsonaro alterou a imagem que o mundo tinha do Brasil, talvez para sempre, porque muito provavelmente essa imagem que temos hoje é mais real do que a que tínhamos antes, infelizmente — lamentou o colunista.
— Eu próprio já fingi que era brasileiro em algumas situações, porque era o melhor a fazer. Você dizia que era brasileiro e tudo se abria. Isso mudou. Acabou.
OUTRO CAMINHO
Barroso defendeu que o Brasil sempre foi “um país de contrastes”, alegre e multicultural de um lado, mas com racismo dissimulado e altos índices de homicídios por outro. Ele acredita, contudo, que a força da cultura brasileira se mantém, evitando “essa visão assim devastadora de que tudo está perdido”.
Maia disse esperar que o governo federal consiga reorganizar a narrativa e as ações no tema do meio ambiente para reverter o quadro. Na conclusão do debate, Lauro Jardim afirmou que a imagem deverá ser ruim por muito tempo, mas que o Brasil definirá nos próximos anos se é este modelo de país que vai seguir ou se “podemos fazer uma curva e seguir outro caminho”.