Correio braziliense, n. 20904, 17/08/2020. Cidades, p. 15

 

A dor da despedida

Jaqueline Fonseca

Roberta Pinheiro

17/08/2020

 

 

O Distrito Federal encerrou o domingo com 1.453 novos casos de covid-19 e 18 mortes em decorrência da doença. Ao todo, a capital contabiliza 136.467 diagnósticos positivos desde o início da pandemia e 1.976 óbitos — 169 deles de moradores de outras unidades da Federação que estavam em tratamento na rede pública do DF. Mais de 118 mil pacientes estão curados e 16.049 têm o vírus ativo.

Das 18 mortes confirmadas ontem, 10 eram mulheres e oito, homens. Além disso, a maioria das vítimas tinha mais de 70 anos. Apesar de contabilizados no boletim mais recente da Secretaria de Saúde do DF, os óbitos ocorreram entre 17 de julho e 16 de agosto.

Ceilândia ultrapassou, com os novos registros, os 17 mil contaminados pelo novo coronavírus. Ao todo, são 17.072. O Plano Piloto também superou os 11 mil infectados, passando a registrar 11.046. Taguatinga tem 10.311 casos, e Samambaia, 8.541.

Com relação ao número de mortes, Ceilândia também lidera, com 378 registros e uma letalidade de 2,2%. Contudo, tanto Taguatinga quanto Samambaia superam os dados do Plano Piloto. Nas duas regiões foram registrados, respectivamente, 186 e 156 mortes, enquanto a região central da capital do país contabiliza 133. A única cidade que ainda não registrou morte em decorrência da covid-19 é o SIA.

Entre as comorbidades de maior prevalência entre os pacientes internados com o novo coronavírus destacam-se os problemas cardiovasculares, responsáveis por 50,7% dos casos, e os distúrbios metabólicos, com 33,4%.

Homenagem

Amigos e familiares de Marcone Guimarães prestaram as últimas homenagens ao advogado trabalhista durante uma carreata ontem, saindo da comercial da 415 Sul em direção ao crematório. Aos 53 anos, ele morreu na madrugada de sábado para domingo em decorrência das complicações da covid-19. Guimarães foi conselheiro da seccional da Ordem dos Advogados do DF, onde presidiu a Comissão de Direito do Trabalho, e exerceu a vice-presidência da Associação dos Advogados Trabalhistas do Distrito Federal (AATDF). “O Marcone era uma pessoa ímpar, só podemos nos referir a ele utilizando excelentes adjetivos”, descreveu o advogado Luiz Gustavo Muglia.

Outra vítima do novo coronavírus foi Maria de Jesus dos Santos Silva, 68 anos. A dona de casa perdeu a batalha para a covid na manhã deste domingo, depois de cinco dias internada no hospital de campanha de Luziânia. A família destacou que ela sempre foi muito carinhosa, amorosa e guerreira. Criou 14 filhos. “Nossa florzinha estará no jardim de Deus e em nossos corações. Lutou até o fim e, agora, descansa nos braços de nosso senhor”, disse o companheiro dela, Alvino Barbosa.

Depois de um mês internado no hospital Santa Lucia, na Asa Sul, morreu no sábado, aos 40 anos, o padre Cássio Augusto, da Igreja Nossa Senhora Assunção, em Ceilândia. Ele também perdeu a luta para a covid-19, uma semana após a mãe morrer vítima da doença. Padre Cássio apresentava sintomas e aguardava o resultado do exame em casa quando, em 18 de julho, o quadro se agravou e ele precisou ser internado.

O brasiliense começou os estudos teológicos há 20 anos. Foi vigário paroquial de 2009 a 2010, na Paróquia Santa Maria dos Pobres, no Paranoá; pároco na Arquidiocese de Goiânia de 2011 a 2017; vigário paroquial no Santuário Menino Jesus, em Brazlândia, em 2018; e assumiu, como pároco da Paróquia Nossa Senhora da Assunção, em Ceilândia, em 2019.

A pedagoga Wanessa Teixeira, 31 anos, conta que o conheceu em Aparecida de Goiânia. “Ele sempre sorria e pedia coragem. Ele me fez gostar de ir às missas, de participar mais, ele trazia paz para mim e para minha família.” A professora Paula Fernanda Regner, 27, também lembra do padre com carinho. “Era um ótimo padre, as homilias dele sempre eram rápidas, mas com palavras que tocavam no fundo do coração. Nossa família sempre teve um imenso carinho por ele. Vai deixar muita saudade.”

A secretária da paróquia onde o padre Cássio atuava, Ivanilze de Oliveira, disse que ele foi um excelente gestor e grande amigo. “Uma pessoa de um coração gigante, sempre aberto a acolher. Muito alegre”, resume. Padre Cássio faria 41 anos em outubro e morreu no dia em que se celebra a Assunção de Nossa Senhora. A festa católica lembra a data em que o espírito de Maria, mãe de Jesus, subiu aos céus.