O globo, n. 31748, 09/07/2020. País, p. 7
Bolsonaro faz dois exames de coração por dia
Naira Trindade
09/07/2020
Presidente monitora possíveis reações cardíacas à hidroxicloroquina, usada em seu tratamento, mas criticada por especialistas; com suspeita de Covid—19, quatro funcionários do Palácio do Planalto foram afastados
Diagnosticado com Covid-19, o presidente Jair Bolsonaro está passando por exames de eletrocardiograma duas vezes ao dia para monitorar a frequência cardíaca, segundo fontes do governo. Avaliar o funcionamento do coraçãoéu ma recomendação da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) para pacientes que, como Bolsonaro, usam a hidroxicloroquina no tratamento do novo coronavírus. O medicamento, sem eficiência comprovada contra a doença, tem como um possível efeito colateral alterações na frequência cardíaca.
O protocolo que Bolsonaro tem cumprido em relação ao monitoramento do coração vai além do recomendado pela SBC. A entidade sugere que sejam realizados exames no primeiro, terceiro e quinto dias do tratamento coma hidroxicloroquina.
De acordo com relatos de integrantes do governo, quatro funcionários que trabalham no terceiro andar do Palácio do Planalto, onde Bolsonaro despacha, também estão com suspeitas de Covid-19. Segundo fontes, os quatro que tiveram sintomas estão afastados do trabalho. Dois tiveram febre, entre eles, uma secretária que cuida do cerimonial e da agenda do presidente.
Ontem, o Ministério da Saúde jogou para os profissionais de saúde a decisão sobre as medidas que deverão ser seguidas por pessoas que tiveram contato com um caso confirmado de Covid-19. A resposta foi dada em entrevista coletiva pelo o secretário de Vigilância em Saúde da pasta, Arnaldo Correia de Medeiros, ao ser questionado se a pasta deu alguma orientação ao Planalto após o diagnóstico do presidente e como quem teve contato com ele deveria agir.
—Ele tem a equipe médica que controla a saúde do presidente, que tem dado todo o seguimento da saúde do presidente. A nossa orientação é de que qualquer pessoa que tenha contato com um caso confirmado, essa pessoa deve procura ruma unidade de saúde para que um profissional de saúde, ao fazer sua análise, sua anamnese, possa verificar sinais e sintomas e, de maneira o quanto mais precoce, verificar quais são as medidas necessárias de saúde, de tratamento —disse Medeiros.
O Planalto diz não ter recomendado isolamento a quem teve contato com Bolsonaro por isso não ter sido recomendado pelo ministério, apesar de epidemiologistas defenderem esta precaução.
Segundo informaram fontes ao GLOBO, uma parte da equipe de assistência ao presidente que trabalha diariamente no terceiro andar do Palácio do Planalto migrou para o Alvorada, residência oficial, para facilitar as atividades. Essa equipe não tem contato direto com Bolsonaro, mas está mais próxima para atender às necessidades, como ajudar nas videoconferências.
Ao longo do dia, o presidente participou de reuniões virtuais com quatro ministros: Fernando Azevedo e Silva (Defesa) Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), Antônio Vogel (interino da Educação) e Jorge de Oliveira (Secretaria-Geral). Também falou com Ivan Duque, presidente da Colômbia.
Na residência, ele tem mantido uma rotina mais leve de trabalho. Pela manhã, saiu por cerca de 20 minutos na área externa para tomar sol. Quem acompanha a rotina, afirma que Bolsonaro está seguindo as orientações médicas.
O tratamento adotado pelo presidente passou a ser indicado pelo Ministério da Saúde mesmo para casos leves após o ministro Nelson Teich ter pedido demissão. Segundo a prescrição, ele deverá tomar hidroxicloroquina e azitromicina por cinco dias.
Alguns dos ministros que estiveram com o presidente nos últimos dias divulgaram ontem que seus testes deram negativo. Titular da Secretaria Geral da Presidência, Jorge Oliveira, fez o teste do tipo RTPCR, o mais indicado. Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional) , que viajou para Santa Catarina com Bolsonaro no sábado, fez tanto o exame RT-PCR quanto o sorológico e ambos deram negativo.