O globo, n. 31749, 10/07/2020. Economia, p. 15
Sem Guedes, Maia quer iniciar reforma tributária
Bruno Góes
Gustavo Schimitt
10/07/2020
Presidente da Câmara mostra distanciamento do ministro e diz que discussão será feita mesmo sem iniciativa do governo
O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse ontem que "não tem conversado" com o ministro da Economia, Paulo Guedes, e que seu diálogo com a equipe econômica está restrito aos técnicos. Ele prometeu iniciar a discussão da reforma tributária na próxima semana "independentemente" de iniciativa do governo.
Ao participar de uma conversa com investidores promovida por um banco de investimentos, Maia afirmou que, mesmo tendo tomado a iniciativa de uma reaproximação, não conversa com Guedes desde a tramitação do projeto de socorro a estados e municípios por causa da crise do novo coronavírus.
— Eu tenho conversado com os técnicos, não tenho conversado com o ministro Paulo Guedes. Inclusive, a pedido de alguns, há um tempo fiz um gesto, mas o ministro não teve interesse. Então, para mim, não faz a menor diferença conversar ou não com Paulo Guedes.
Segundo o parlamentar, o que faz “diferença” é conversar com os técnicos da equipe econômica: — baseado nos dados concretos posso ajudar o Congresso e a Câmara a tomar as melhores decisões em relação aos projetos, principalmente aqueles com impacto fiscal.
Na semana passada, Guedes disse que a proposta de reforma tributária do governo está "absolutamente pronta", mas o texto não foi enviado ao Congresso.
Ao ser perguntado sobre o relacionamento com o ministro, Maia argumentou que Guedes foi "agressivo" com a Câmara e indicou que o chefe da equipe econômica não quis estender a mão para uma reaproximação.
Maia ainda criticou a falta de iniciativa do governo na agenda de reformas e classificou como difícil de se realizar a promessa de Guedes de privatizar quatro estatais em 90 dias.
O presidente da Câmara argumentou que o fim da medida agora poderia agravar ainda mais o desemprego num momento em que a economia tenta reagir. Ele criticou os argumentos do governo e disse que o custo de R$ 10 bilhões será alocado no Orçamento de 2021.