O globo, n. 31750, 11/07/2020. País, p. 17

 

PGR terá acesso a dados do Coaf sobre 38 mil pessoas e empresas

Aguirre Talento

11/07/2020

 

 

Relatórios com indícios de crimes em transações financeiras serão repassados pela Lava-Jato após decisão de Toffoli

 Com a de­ci­são do presidente do Su­pre­mo Tri­bu­nal Fe­de­ral (STF), mi­nis­tro Di­as Tof­fo­li, de obri­gar o re­pas­se de to­dos os ban­cos de da­dos das for­ças-ta­re­fas da Ope­ra­ção La­va-Ja­to, o pro­cu­ra­dor-ge­ral da Re­pú­bli­ca, Au­gus­to Aras, vai ter aces­so a re­la­tó­ri­os do Con­se­lho de Con­tro­le de Ati­vi­da­des Fi­nan­cei­ras (Co­af) re­fe­ren­tes a 38 mil pes­so­as fí­si­cas e ju­rí­di­cas. Os do­cu­men­tos, que apon­tam in­dí­ci­os de cri­mes fi­nan­cei­ros, fo­ram pro­du­zi­dos pa­ra os pro­cu­ra­do­res do Pa­ra­ná e se­rão compartilhados com a Pro­cu­ra­do­ria-Ge­ral da Re­pú­bli­ca (PGR).

O ban­co de da­dos de in­for­ma­ções fi­nan­cei­ras da ope­ra­ção em Cu­ri­ti­ba in­clui mais de 750 re­la­tó­ri­os do Co­af, so­bre tran­sa­ções que so­mam R$ 850 bi­lhões. A par­tir des­sas sus­pei­tas ini­ci­ais, tam­bém hou­ve que­bras de si­gi­lo ban­cá­rio que ras­trei­am tran­sa­ções fi­nan­cei­ras to­ta­li­zan­do R$ 3,9 tri­lhões. Os da­dos fo­ram ob­ti­dos pe­las in­ves­ti­ga­ções des­de o iní­cio da ope­ra­ção, em 2014, e fo­cam em al­vos sem fo­ro pri­vi­le­gi­a­do. Ca­da re­la­tó­rio en­vol­ve uma sé­rie de pes­so­as e em­pre­sas. Aras te­rá aces­so a to­do es­se ma­te­ri­al em meio a um em­ba­te com a La­va-Ja­to.

O con­fli­to veio a pú­bli­co de­pois que a sub pro­cu­ra­do­ra Lindô­ra Araú­jo, au­xi­li­ar de Aras, foi a Cu­ri­ti­ba ten­tar ob­ter có­pia do ma­te­ri­al. Com is­so, a for­ça-ta­re­fa en­vi­ou um ofí­cio à Cor­re­ge­do­ria do Mi­nis­té­rio Público Fe­de­ral acu­san­do Lindô­ra de ter fei­to uma ma­no­bra ile­gal pa­ra ten­tar ob­ter os da­dos de ma­nei­ra in­for­mal. Em novem­bro do ano pas­sa­do, quan­do o STF deba­tia o com­par­ti­lha­men­to de da­dos do Co­af, Tof­fo­li ha­via pro­fe­ri­do uma de­ci­são em ter­mos se­me­lhan­tes, que deu a ele aces­so a re­la­tó­ri­os do Co­af so­bre aproxima­da­men­te 600 mil pes­so­as fí­si­cas e ju­rí­di­cas. Após a re­per­cus­são, o presidente do Su­pre­mo dis­se que não che­gou a ver os do­cu­men­tos.

FOR­ÇA-TA­RE­FA CRI­TI­CA

A nova de­ci­são de Tof­fo­li foi to­ma­da a pe­di­do da PGR, sob o ar­gu­men­to de que as for­ças­ta­re­fas não que­ri­am re­pas­sar os ban­cos de da­dos si­gi­lo­sos. No pe­di­do, o vi­ce-pro­cu­ra­dor-ge­ral da Re­pú­bli­ca, Hum­ber­to Jac­ques, afir­mou que ha­via “re­sis­tên­ci­as” à en­tre­ga e à “su­per­vi­são de in­for­ma­ções”. Em su­as res­pos­tas a ofí­ci­os en­vi­a­dos pe­la PGR, as for­ças-ta­re­fas apon­ta­ram que o com­par­ti­lha­men­to dos da­dos si­gi­lo­sos com Aras po­de­ria ser fei­to so­men­te com au­to­ri­za­ção ju­di­ci­al, por is­so so­li­ci­ta­ram que a PGR es­pe­ci­fi­cas­se a quais da­dos si­gi­lo­sos quer ter aces­so.

A PGR, en­tão, ajui­zou uma re­cla­ma­ção no STF pe­din­do que o Su­pre­mo de­ter­mi­nas­se o for­ne­ci­men­to dos ban­cos de da­dos. Tof­fo­li pro­fe­riu a de­ci­são em meio ao plan­tão do Ju­di­ciá­rio, já que o re­la­tor do ca­so se­ria o

mi­nis­tro Ed­son Fa­chin. O presidente da Cor­te con­si­de­rou que a re­cu­sa das for­ças-ta­re­fas em en­tre­gar as in­for­ma­ções so­li­ci­ta­das fe­ria a uni­da­de do Mi­nis­té­rio  Públi­co Fe­de­ral. Ele de­ter­mi­nou o “ime­di­a­to in­ter­câm­bio ins­ti­tu­ci­o­nal de in­for­ma­ções, pa­ra opor­tu­ni­zar ao Pro­cu­ra­dor-Ge­ral da Re­pú­bli­ca o exa­me mi­nu­ci­o­so da ba­se da­dos es­tru­tu­ra­dos e não-es­tru­tu­ra­dos co­lhi­das nas in­ves­ti­ga­ções”. A for­ça-ta­re­fa da La­va-Ja­to em Cu­ri­ti­ba cri­ti­cou a or­dem de Tof­fo­li. Em no­ta, os pro­cu­ra­do­res afir­ma­ram que a de­ci­são inau­gu­rou uma“ori­en­ta­ção ju­ris­pru­den­ci­al nova e iné­di­ta” e per­mi­tiu o“aces­so in­dis­cri­mi­na­do a da­dos pri­va­dos de ci­da­dãos, em des­con­si­de­ra­çãoàs de­ci­sões ju­di­ci­ais do juiz na­tu­ral do­ca so­que de­ter­mi­na­ram, de­for­ma pon­tu­al, funda­men­ta­da e co­ma exi­gên­cia de in­di­ca­ção de fa­tos es­pe­cí­fi­cos em in­ves­ti­ga­ção, o afas­ta­men­to de si­gi­lo de da­dos ban­cá­ri­os, fis­cais e te­le­má­ti­cos.”