O globo, n. 31752, 13/07/2020. País, p. 6
PSL se divide sobre reaproximação com Planalto
Paulo Capelli
Bruno Góes
13/07/2020
Movimento, que incluiu oferta de cargos e telefonema entre Bolsonaro e o presidente do partido, é rechaçado por parlamentares ainda rompidos com o governo. Major Olimpio ameaça se desfiliar, e Bivar responde: 'Quem quer faz'
A reaproximação entre a cúpula do PSL e Jair Bolsonaro incomodou parlamentares do partido rompidos com o presidente desde o ano passado. A oferta de cargos no governo a deputados da antiga legenda do presidente, e a conversa de Bolsonaro com Luciano Bivar (PE), comandante da sigla, conforme O GLOBO mostrou no sábado, tiveram reação de parlamentares contrários a este movimento.
No ano passado, a briga com Bolsonaro — motivada por disputas pelos diretórios regionais do PSL e pelo controle da verba a que a legenda tem direito nos fundos partidário e eleitoral — dividiu o partido entre os que ficaram ao lado do presidente e os que se posicionaram com Bivar. Bolsonaro se desfiliou da sigla, mas agora retomou o diálogo com Bivar e com parte do grupo que permaneceu ao lado do deputado.
Os insatisfeitos afirmam que o PSL “não está à venda”.
O senador Major Olimpio (PSL-SP) escreveu mensagem no grupo de parlamentares do partido, no WhatsApp, ameaçando deixar a legenda. Em público, não abaixou o tom:
“Ao ler matéria jornalística dando conta (de) que Bolsonaro busca reaproximação com o PSL para ampliar sua base, e que ligou para (o presidente do partido) Luciano Bivar e que o vice-presidente do partido, (Antonio) Rueda, e (o senador) Flávio Bolsonaro (Republicanos) costuram a aproximação, me deu vontade de vomitar!”, escreveu Olimpio em sua conta no Twitter. “Eu disse no grupo de parlamentares do PSL que, se isto acontecer, sentirei muita saudade do partido. TCHAU QUERIDOS!”.
No estopim da briga no ano passado, Bolsonaro chegou a dizer a um apoiador para “esquecer” Luciano Bivar, pois ele estaria “queimado para caramba”. A reaproximação foi acelerada com um telefonema entre os dois, há duas semanas. A conversa foi rápida, porém cordial.
Antes disso, o partido já havia acenado ao presidente com a retirada de Joice Hasselmann (PSL-SP), exlíder do governo no Congresso e hoje forte opositora de Bolsonaro, da liderança da sigla na Câmara dos Deputados. Em troca, como garantia para ampliar sua base no Congresso, o Planalto ofereceu cargos ao partido, como a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste, a Eletrosul e o Banco da Amazônia. Dirigentes do PSL afirmam que os cargos não foram aceitos e que a reaproximação com o presidente ocorre por “afinidade de pautas”.
Bivar reagiu ao comentário de Olimpio:
— Quem quer faz. Não ameaça —disse.
Olimpio não está sozinho.
Nas redes sociais, Joice Hasselmann disse que o PSL “não está à venda e não participará do ‘tomá lá, dá cá’ do governo”. Segundo ela, Bolsonaro “pensa que pode tudo”.
"O governo Bolsonaro pode ter comprado o caro, caríssimo Centrão, que tem preço, sempre teve e sempre terá. Nosso partido é independente e assim continuará”, publicou a deputada.
O deputado Junior Bozella (PSL-SP), presidente estadual da sigla em São Paulo, escreveu nota na mesma linha de Joice.
“Asseguro que nós, do PSL São Paulo, somos absolutamente contrários a qualquer negociação que envolva toma lá, da cá. Lutamos contra isso, fomos acusados de traidores porque não compactuávamos com isso, e agora nossa postura não será diferente. Muito obrigado, presidente, mas nós não estamos à venda, por gentileza, guarde os seus cargos para o centrão e os seus amigos de estimação”.
Há deputados que permaneceram ao lado de Bivar desde a briga do ano passado e são favoráveis à reaproximação com Bolsonaro.