O Estado de São Paulo, n.46260, 13/06/2020. Metrópole, p.A21

 

Brasil é o 2° país com mais mortos

Gonçalo Junior

13/06/2020

 

 

Com 41,9 mil óbitos, País ultrapassou ontem a marca do Reino Unido e agora só está atrás dos EUA. Casos estão perto dos 830 mil

O Brasil é o segundo país do mundo com mais mortes por coronavírus. A triste posição no ranking foi obtida ontem, quando o País alcançou o total de 41.901 óbitos e 829.802 pessoas infectadas, segundo levantamento conjunto feito pelos veículos de comunicação Estadão, G1, O Globo, Extra, Folha e UOL. Em comparação com o levantamento da Universidade Johns Hopkins, o Brasil ultrapassou o Reino Unido, que registra 41.566 óbitos.

Os Estados Unidos continuam no topo do ranking com 114.195 mortes. Segundo balanço da Organização Mundial de Saúde (OMS), o Brasil já ocupava a segunda posição no ranking de casos. Dados atualizados até as 20 horas de ontem mostram que, nas últimas 24 horas, foram registrados 843 novos óbitos e 24.255 casos de contaminação pela covid-19 no Brasil.

Com mais de 10 mil mortes, São Paulo continua sendo o Estado mais afetado pelo vírus. A elevação do número de óbitos acontece em um momento de flexibilização da quarentena e retomada das atividades econômicas. Anteontem, por exemplo, os shoppings centers foram autorizados a iniciar a retomada em horário reduzido e com o cumprimento de medidas preventivas.

O Rio de Janeiro é o segundo Estado com mais vítimas fatais. Em terceiro vem o Ceará. O Estado com menos mortes é Mato Grosso do Sul, com 28 óbitos registrados até agora.

O balanço é resultado da parceria entre os jornalistas dos seis meios de comunicação, que uniram forças para coletar junto às secretarias estaduais de Saúde e divulgar os números totais de mortos e contaminados. A iniciativa inédita é uma resposta à decisão do governo Jair Bolsonaro de restringir o acesso a dados sobre a pandemia, o que ocorreu a partir da semana passada.

Mesmo com o recuo do Ministério da Saúde, que voltou a divulgar o consolidado de casos e mortes, o consórcio dos veículos de imprensa continua com o objetivo de informar os brasileiros sobre a evolução da covid-19 no País, cumprindo o papel de dar transparência aos dados públicos.

Ontem, a pasta informou que o Brasil contabilizou 909 óbitos e mais 25.982 pessoas infectadas pelo novo coronavírus. Com isso, segundo o Ministério da Saúde, no total são 828.810 casos confirmados e 41.828 mortes causadas pelo coronavírus.

Estratégias. Especialistas apontam que o altíssimo número de mortes nos dois países – Brasil e Reino Unido, os dois únicos com mais de 40 mil mortes além dos Estados Unidos – indica estratégias equivocadas no enfrentamento da pandemia.

O microbiólogo e virologista Rômulo Neris, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), afirma que o Reino Unido mudou de estratégia com o aumento do número de casos. “Eles abriram mão dos planos de contenção no início da pandemia. Isso custou milhares de vidas. O país mudou a perspectiva com o agravamento da pandemia e adotou o lockdown”, diz o especialista.

“O Brasil adotou postura negacionista. As medidas de controle não foram estabelecidas e o isolamento social não teve o suporte das autoridades”, diz o especialista que atuou como pesquisador visitante da Universidade da Califórnia até março, mas decidiu voltar ao País para ajudar no enfrentamento da pandemia.

Passaram-se 53 dias desde a primeira morte até o País atingir 10 mil óbitos (entre 17 de março e 9 de maio). Pouco mais de mês depois, o Brasil ultrapassa os 40 mil mortos em decorrência da covid-19.

O virologista Flávio Guimarães da Fonseca, que atua no Centro de Tecnologia de Vacinas e no Departamento de Microbiologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), destaca que os dois países estão em momentos diferentes da pandemia. “Desde o crescimento do número de fatalidades no Reino Unido, eles adotaram medidas importantes que promoveram a queda da transmissão comunitária. Ela está em franca diminuição ou na curva descendente. No Brasil, ainda não alcançamos o pico. A curva continua crescente. Há um aumento diário no número de casos e não há sinal de decréscimo”, prevê o especialista que tem realizado estudos para melhorar o diagnóstico da infecção pelo coronavírus.

- Retomada

“(O Brasil) é o único País que discute a reabertura e flexibilização ainda durante o crescimento de casos.”

Rômulo Neris

MICROBIÓLOGO E VIROLOGISTA DA UFRJ