Correio braziliense, n. 20896, 09/08/2020. Política, p. 3

 

De carona com o presidente

Augusto Fernandes

Ingrid Soares

09/08/2020

 

 

O presidente Jair Bolsonaro tem evitado entrar nas discussões sobre eleições municipais e prometeu não apoiar nenhum candidato para prefeito no pleito de novembro, mesmo assim, muitos postulantes aos cargos querem vincular o nome do chefe do Executivo às suas candidaturas em busca de mais votos. A estratégia, contudo, deve funcionar de diferentes maneiras a depender da região do país, especialmente nas capitais estaduais.

O fato de Bolsonaro não conseguir emplacar o partido Aliança pelo Brasil para as eleições deste ano é um dos principais fatores que pode jogar contra os candidatos que defendem o presidente. Hoje, não há uma legenda específica para abrigar os bolsonaristas, o que faz com que muitos que se identificam com a figura do mandatário se apresentem para concorrer à mesma prefeitura, dividindo o próprio eleitorado.

Assim, o bolsonarismo deve enfrentar dificuldades, sobretudo em grandes metrópoles do Sudeste e do Sul, onde os favoritos às prefeituras levam vantagem, principalmente, por já terem a máquina pública nas mãos. É o que acontece, por exemplo, com os prefeitos de São Paulo, Bruno Covas (PSDB); de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD); e de Porto Alegre, Nelson Marchezan Júnior (PSDB).

Levantamentos feitos pelo instituto Paraná Pesquisas em junho e julho revelaram que os atuais prefeitos estão na frente dos demais pré-candidatos dos seus respectivos municípios em diferentes cenários de votação. Pelas pesquisas, Covas tem, ao menos, 22% do eleitorado paulistano; Kalil concentra, no mínimo, 55% da preferência pública em BH; e Marchezan tem garantidos, pelo menos, 20% das intenções de voto em Porto Alegre.

Os políticos que, possivelmente, serão os “candidatos do Bolsonaro” nestas capitais, na maioria, não chegariam nem perto de um eventual segundo turno, sobretudo em São Paulo, onde os apoiadores mais fiéis do presidente sequer definiram um favorito para a eleição e ainda refletem sobre a possibilidade de lançar um candidato que seja bolsonarista raiz.

Já em Belo Horizonte, ao menos três nomes querem se vincular à figura de Bolsonaro: o candidato do Novo, Rodrigo Paiva, correligionário do governador de Minas Gerais, Romeu Zema; o deputado federal Lafayette de Andrada (Republicanos); e o deputado estadual Bruno Engler (PRTB) — este que é, até o momento, o único candidato a prefeito no país o qual Bolsonaro já admitiu publicamente ter a intenção de apoiar. Pelas estatísticas reunidas pelo Paraná Pesquisas, Rodrigo Paiva é o melhor avaliado, mesmo assim, concentra, no máximo, 3,7% dos votos na capital mineira.

Rio e Nordeste

A cidade do Rio de Janeiro é uma das exceções dentro do eixo Sul-Sudeste para o bolsonarismo. Na capital fluminense, a vertente de apoio ao presidente conta com um nome de peso para o pleito municipal, o prefeito Marcelo Crivella (Republicanos). Em meio à pandemia, os laços entre Bolsonaro e ele estreitaram-se e o político viu dois dos filhos do presidente se filiarem à sua legenda: o vereador Carlos Bolsonaro e o senador Flávio Bolsonaro, com quem o prefeito fez uma live há três semanas. A conversa foi marcada por trocas de elogios e Crivella ainda recebeu um gesto de apoio do senador ao ouvir um “meu prefeito”.

Apesar disso, Crivella terá de ampliar o seu eleitorado, caso queira continuar no Palácio da Cidade. Pesquisa elaborada em junho pelo Instituto VER Pesquisa e Comunicação sobre as eleições municipais do Rio de Janeiro colocaram o ex-prefeito carioca Eduardo Paes (DEM) com uma ampla vantagem sobre Crivella: 31,3% contra 10,8% em um primeiro cenário; e 25,1% contra 9,6%, em um segundo cenário.

No Nordeste, as chances de Bolsonaro alavancar a eleição de alguns prefeitos é maior, principalmente pela crescente popularidade do presidente por conta do auxílio emergencial de R$ 600. As recentes inaugurações de obras que vão facilitar o acesso à água pelos nordestinos, como um dos eixos de transposição do Rio São Francisco, também melhoraram a imagem do mandatário na região onde ele menos teve votos em 2018.

O principal desafio, novamente, será a escolha por, apenas, um nome diante da provável pulverização de candidaturas, o que facilitará a vida do eleitorado. “Hoje, Bolsonaro detém a maior minoria da transposição eleitoral do Brasil. Os 30% ou 40% dos que se identificam com o presidente o colocam como principal cabo eleitoral do país”, opina Rafael Favetti, advogado e cientista político.

Para André Rosa, cientista político e especialista em relações governamentais pelo Ibmec, o candidato que Bolsonaro eventualmente “apoiar” terá maiores chances de vitória. Segundo ele, no futuro, isso pode ser importante para o próprio presidente. “Vimos isso com Wilson Witzel e João Doria, que se elegeram na onda de popularidade de Bolsonaro em 2018. Também é grande a quantidade de majores e delegados na Câmara que foram eleitos por meio do presidente. E é claro que Bolsonaro sabe que essa corrida a prefeitos é primordial para 2022, podendo contribuir para a sua reeleição.”