Correio braziliense, n. 20888 , 01/08/2020. Economia, p.8

 

Brasília, capital do Home Office

Vera Batista

Renata Rios

01/08/2020

 

 

Mais de 28% dos trabalhadores do DF estão em regime de trabalho remoto, índice maior do que a média nacional. Nível mais alto de escolaridade e de renda, além da predominância do setor de serviços explicam o quadro

Com uma população de 3,05 milhões de habitantes, o Distrito Federal tem 28,5% dos profissionais em trabalho remoto. Não por acaso, Brasília ganhou o título de capital do home office, afirma o pesquisador Marcel Balassiano, do Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV). O principal motivo é o alto nível de escolaridade da população: 20,8% dos moradores têm nível superior completo, taxa bem maior do que a nacional, de 14,5%, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A alta remuneração também tem forte influência nesse cenário de trabalho remoto. Em 2018, de acordo com a Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan), o salário médio na capital era de 5,5 salários mínimos. A proporção de pessoas ocupadas em relação à população total era de 45,5%.

“Esses dados são importantes, porque, quanto mais escolarizados, mais condições têm os empregados de ficar no teletrabalho. E as profissões de nível superior são as que mais se adequam”, destacou o pesquisador. “Temos que considerar, ainda, que 70% da economia do DF é do setor de serviços. Por isso, mais gente pode manter as atividades em casa. Observe que o percentual do teletrabalho no DF é superior aos de São Paulo e Rio de Janeiro, que têm mais indústrias, por exemplo”.

A grande dúvida é o que vai acontecer a curto prazo, destaca Balassiano. “Cerca de 60% da população do país vai sair mais pobre da pandemia”, lembrou o pesquisador. E Brasília, apesar dos mais abastados, tem também altos índices de desigualdade. Em 2018, o cientista político Lúcio Rennó, então presidente da Codeplan, já avisava que o DF registrava desigualdade maior do que o resto do país e da região Centro-Oeste. O Índice de Gini — medida de desigualdade que varia de 0 (o ideal) a 1 (pior grau) — era de 0,602, em comparação a 0,549 no país e a 0,536 no centro-Oeste.

Cautela

O trabalho em casa está regulamentado pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) desde a década de 1940. “Mas nem todo teletrabalho é home office. Somente é ‘tele’ quando intermediado pela internet”, observa Eduardo Pragmácio Filho, do escritório Furtado Pragmácio Advogados. A prática tem vantagens e desvantagens, como a liberdade para produzir tarefas, mas, por outro lado, causa efeitos psicológicos desgastantes, afirmou Pragmácio. Em 2017, a reforma trabalhista dedicou vários capítulos à regulamentação do teletrabalho.

E é preciso que patrões e empregados negociem os detalhes. “As normas sobre quem vai arcar com as despesas —de água, luz, telefone, equipamentos tecnológicos, entre outras —, têm que estar estabelecidas em contrato. O acordo tem que prever, inclusive, o risco ergonômico, ou seja, os problemas da postura inadequada. Nesse momento de pandemia, o teletrabalho acabou sendo compulsório. Mas as empresas devem tomar cuidado para não correr riscos de futuros passivos”, destaca Pragmácio.

Funcionária de uma empresa de TI, Gabriela Sartori, 26 anos, é formada em gestão da tecnologia da informação, mora em Ceilândia e está aproveitando o home office para melhorar o currículo e ficar com a filha, de 6 anos. “Eu perdia três horas do meu dia só no transporte, sem contar a hora do almoço. Com a quarentena, consigo dormir mais, passo mais tempo com a minha filha e ainda tenho feito alguns cursos”, disse.

A empresa na qual Gabriela trabalha tem mais de 25 mil funcionários. “Em alguns contratos, estão pedindo o retorno ao presencial. Vários profissionais voltaram. Mas faço parte do time interno e o retorno ainda não foi pedido”, contou. Ela relata que já estão sendo feitas, inclusive, novas contratações no modelo de teletrabalho.

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Idosos perdem vagas

Simone Kafruni

01/08/2020

 

 

O grupo dos trabalhadores com mais de 65 anos foi o que registrou a maior alta nos desligamentos no primeiro semestre do ano, segundo os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério da Economia. Foram 67 mil profissionais mais velhos demitidos ou que pediram demissão no período, um crescimento de 25% em relação ao número registrado no primeiro semestre de 2019.

As outras duas faixas etárias que tiveram aumento nos desligamentos foram a de 50 a 64 anos, com alta de 9%, e a de até 17 anos, expansão de 17%, sempre na comparação dos seis primeiros meses do ano ante igual período do ano passado. Nas faixas intermediárias, embora os números absolutos sejam bem maiores, na casa dos milhões, houve queda nas dispensas.

O quadro da pandemia pode explicar o aumento nas demissões de pessoas acima de 65 anos, segundo o especialista em mercado de trabalho Rodolfo Peres Torelly, ex-diretor do Departamento de Emprego e Salário do extinto Ministério do Trabalho. “Além de pertencerem a um grupo de risco, essas pessoas podem já estar aposentadas. Nesse caso, não têm direito ao seguro-desemprego, que é o que complementa a redução de salário e jornada, uma das medidas do governo responsável pela manutenção de muitos empregos”, avaliou.

De acordo com o Caged, na faixa etária de 50 a 64 anos, o crescimento das demissões foi de 9% com 756 mil pessoas dispensadas ou que pediram desligamento no período. Nas etapas intermediárias da carreira, a tendência foi outra. Dos 25 aos 29 anos, houve queda de 2,3% nos desligamentos, o que representa 1,4 milhão de demissões, e dos 30 aos 39 anos, um recuo de 1,6% com 2,3 milhões de cortes. Até 17 anos, 100 mil jovens saíram dos empregos no primeiro semestre. “Os extremos de faixa etária tendem a ser pessoas de menor renda”, explicou Torelly.