O globo, n. 31729, 20/06/2020. País, p. 14
Ministros vão até Moraes para reduzir “ruídos" com Supremo
André de Souza
Naira Trindade
20/06/2020
André Mendonça, Levi e Jorge Oliveira viajaram a SP para tentar pacificar relação do governo com o STF
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, relator de dois inquéritos que têm entre os alvos aliados do presidente Jair Bolsonaro e que vem tomando decisões que desagradam ao governo federal, recebeu ontema em sua casa em São Paulo três ministros da ala jurídica do governo: André Mendonça (Justiça), Jorge Oliveira (Secretaria-Geral) e José Levi (Advocacia-Geral da União) estiveram com Moraes numa tentativa de tentar pacificar ou ao menos amenizar a conflituosa relação do Palácio do Planalto com o Supremo.
A visita foi pedida pelos integrantes do governo com o objetivo de acabar com os ruídos na comunicação entre Executivo e Judiciário. Na avaliação dos aliados de Bolsonaro, quando a temperatura sobe muito é preciso fazer movimentos para acalmar os ânimos e seguir em frente com calma e sem novos conflitos. Considerado um ministro sereno, Jorge Oliveira é hoje o principal conselheiro de Bolsonaro no Planalto. Segundo fontes, Jorge levou a Moraes o ponto de vista do governo diante dos últimos cenários de manifestações contrárias ao Supremo. O ministro André Mendonça também é um conselheiro frequente do presidente. Assim como Oliveira, é cotado para ser indicado ao Supremo por Bolsonaro. O presidente poderá escolher dois novos integrantes da Corte, um ainda este ano, e outro em 2021, com a saída dos atuais ministros Celso de Mello e Marco Aurélio Mello. A agenda pública cita que o motivo foi tratar de alguns processos em curso no STF, como as condicionantes para demarcação de terras indígenas, prejuízos ao setor sucroalcooleiro, e a possibilidade de o Tribunal de Contas da União (TCU) decretar a indisponibilidade de bens, e o controle de armas e munições. Mas o encontro teve como Pano de fundo fazer mais uma deferência a Moraes, que relata processos importantes e tem desagradado o Planalto. Além da visita dos ministros, a demissão de Abraham Weintraub do Ministério da Educação também serviu como uma sinalização de paz enviada pelo governo. Na reunião ministerial do dia 22 de abril, Weintraub chamou de vagabundos os ministros do Supremo. E, sem citar os magistrados, repetiu a declaração A apoiadores durante uma manifestação em Brasília no domingo passado. Moraes já foi alvo de ataques diretos de Bolsonaro por suas decisões, como a de barrar a posse de Alexandre Ramagem como diretor-geral da Polícia Federal. O ministro também relata dois inquéritos no STF que têm bolsonaristas como alvo, o que trata das fake news e o relativo aos atos antidemocráticos. Decisões do ministro de fazer busca e apreensão
Em residências de apoiadores do governo e de quebrar sigilos bancários de parlamentares da base de apoio de Bolsonaro geraram críticas do presidente e seus aliados. Além dos processos no Supremo há preocupação também com o fato de Moraes integrar agora também o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e, assim, ser um dos responsáveis por julgar ações que visam cassar a chapa formada por Bolsonaro e seu vice, Hamilton Mourão.