O globo, n. 31729, 20/06/2020. País, p. 14
Carta enviada a embaixadas pede rejeição a Weintraub no BIRD
Eliane Oliveira
20/06/2020
Membros da sociedade civil e ONGs dizem que ele não é qualificado para o cargo
Um dia depois de o governo anunciar sua ida para o Banco Mundial (Bird), Abraham Weintraub já começa a enfrentar resistências de representantes da sociedade civil. Uma carta com quase 300 assinaturas foi enviada, ontem, às embaixadas de países que integram o grupo do Brasil na instituição.
O documento faz um apelo para que Weintraub, que ainda não foi formalmente exonerado do Ministério da Educação, não seja eleito diretor-executivo do Bird, sob o argumento de que sua gestão no ministério foi “destrutiva e venenosa”, além de dizer que ele não tem competência e condições técnicas de assumir essa função. A correspondência foi endereçada aos embaixadores da Colômbia, da República Dominicana, do Equador, do Haiti, do Panamá, das Filipinas, do Suriname e de Trinidade & Tobago. Junto com o Brasil, esses países têm votos suficientes para eleger o ex-ministro da Educação para o cargo.
Na carta, os signatários afirmam ter recebido com perplexidade a notícia. Desaconselham “fortemente” a indicação e destacam que a demissão do ex-ministro é resultado de um ambiente “destrutivo e venenoso que ele inflou em todo o sistema político do Brasil”. Segundo o documento, desde que assumiu o cargo, Weintraub sempre respondeu com “desprezo, sarcasmo e agressividade a críticas ou mesmo recomendações de cidadãos comuns, jornalistas, legisladores e até juízes da Suprema Corte”. “Devido ao seu comportamento odioso e desempenho medíocre como ministro da Educação, houve pedidos quase unânimes de sua renúncia em todos os segmentos da sociedade brasileira”, diz um trecho da carta.
INDICAÇÃO “ANTÍTESE”
Assinada por institutos e organizações governamentais ligadas a várias áreas, como direitos humanos, urbanismo e defesa do consumidor, a carta também tem como signatários artistas, economistas, escritores, antropólogos e historiadores. São exemplos o ex-presidente do BNDES, Pio Borges; os economistas Laura Carvalho e José Roberto Afonso; o cantor e escritor Chico Buarque, a cantora Olívia Byington; o ator Paulo Betti; a ex-ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, o ex-ministro da Fazenda,
Rubens Ricupero. —Não tem cabimento botar num posto que é eminentemente técnico alguém que é militante de extrema direita — disse Ricupero ao GLOBO. O documento enumera uma série de fatores como argumento de que Weintraub é a “antítese” de tudo o que o Banco Mundial procura representar na política de desenvolvimento e no multilateralismo: ideologia
Baseada em evidências, fracas habilidades de gerenciamento, falta de capacidade de lidar com injustiças sociais e econômicas por meio de políticas públicas, desrespeito aos valores do multilateralismo e conduta incompatível com os padrões de integridade ética e profissional. Procurado, o Ministério da Educação informou que a pasta e o próprio Weintraub não vão se manifestar. Em suas
Redes sociais, Weintraub disse que pretende sair do Brasil “o mais rápido possível (poucos dias)” e que deseja ficar longe de polêmicas. “Não quero brigar! Quero ficar quieto, me deixem em paz, porém, não me provoquem!”, publicou.
O governo ainda não definiu o nome do substituto de Weintraub. Ao divulgar sua demissão, ele anunciou que faria a transição nos próximos dias.