O globo, n. 31729, 20/06/2020. País, p. 10
Onde está Márcia
Juliana Dal Piva
João Paulo Saconi
Chico Otavio
20/06/2020
Márcia encontrou com Raimunda, mãe de Adriano da Nóbrega, acusado de ser líder de grupo miliciano, para estudar rota, no ano passado; Defesa de ex-assessor de Flávio entrou com pedido de prisão domiciliar
Ao pedir a prisão de Fabrício Queiroz, o Ministério Público do Rio informou ao juiz Flávio Itabaiana Nicolau, da 27ª Vara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio, que localizou mensagens nos celulares de Márcia Oliveira de Aguiar, mulher de Queiroz, que apontaram para “um plano de fuga organizado para toda a família do operador financeiro que contaria com a atuação do então foragido Adriano Magalhães da Costa Nóbrega”. Depois disso, Márcia foi a Astoufo Dutra (MG) encontrar pessoalmente Raimunda Magalhães Veras, mãe de Adriano, ex-capitão do Bope e acusado de ser líder de grupo miliciano do Rio, morto durante operação da polícia na Bahia para capturálo, em fevereiro. Ontem, a defesa de Queiroz apresentou à Justiça do Rio pedido de habeas corpus para a troca da prisão preventiva por domiciliar por tempo indeterminado. O advogado Paulo Emílio Catta Preta menciona o “atual estágio da pandemia do coronavírus” e argumenta que Queiroz “é portador de câncer no cólon e recentemente se submeteu à cirurgia de próstata”. A solicitação deve ser analisada pela desembargadora Suimei Cavalieri, 3ª Câmara Criminal do TJ do Rio.
ENCONTRO EM MINAS
Sobre o plano de fuga, um trecho do despacho do juiz Flávio Itabaiana se refere a um diálogo entre Queiroz e Márcia, em 2 de dezembro, que indica “que o advogado Luis Gustavo Botto Maia teria se reunido previamente com o “Anjo” e com Fabrício Queiroz em Atibaia (SP) antes de seguir para a cidade Astolfo Dutra (MG), no dia seguinte”. Botto Maia é um advogado que atuava, até então, em causas eleitorais do senador Flávio Bolsonaro. Nas mensagens desse dia, Queiroz diz a Márcia que “Gustavo falou que ela (Raimunda) pode voltar”. Para o MP, os dados mostram que eles orientaram
Raimunda a ficar escondida depois do julgamento no STF que discutiu o compartilhamento de dados por meio de relatórios do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). Um deles instaurou a investigação sobre Queiroz e Flávio depois de ser identificada a movimentação atípica de R$ 1,2 milhão nas contas de Queiroz.
Em 3 de dezembro, Botto Maia seguiu para Astolfo Dutra, em Minas Gerais, onde se reuniu, no dia seguinte, com Márcia e Raimunda. O encontro foi pedido por Raimunda nessa cidade. “Amiga, o que você acha de vir aqui amanhã? Pessoalmente a gente resolve tudo. Você não acha?”, escreveu Raimunda para Márcia, antes do encontro. Também foram arrecadas mensagens que mostram que Márcia ficou levando recados de Queiroz para Adriano por intermédio de Danielle Nóbrega. Em uma mensagem antes do encontro, Márcia escreve a Queiroz que “depois que ela (Danielle) falar com o amigo, ela vai entrar em contato comigo”. O magistrado também registrou que Botto Maia “chegou à casa de Raimunda
Veras Magalhães, em Minas Gerais, para acompanhar as comunicações com a esposa de Adriano Magalhães da Nóbrega”, que vem a ser Danielle Mendonça da Costa da Nóbrega, ex-funcionária de Flávio. Ela constou como assessora de Flávio durante dez anos entre 2008 e 2018.O MP acredita que os "recados" foram para discutir plano de fuga para Queiroz e família.
INFLUÊNCIA POLÍTICA
Mensagem enviada no ano passado, que também consta na decisão de Itabaiana, mostra que Queiroz continuou a ter influência política mesmo investigado: “Avisa pro doutor aí, cara, se quiser algum contato pessoal aí, com… a cúpula de cima, faz contato, valeu? Dá para encaminhar”, disse a um interlocutor que respondia pelo nome de “Heyder”. O GLOBO revelou em outubro de 2019 outro áudio de Queiroz que sugeria a mais um interlocutor como proceder para fazer indicações políticas. A mensagem mostrava que, mesmo durante a investigação, Queiroz indicava caminhos e tinha influência em nomeações junto a Flávio Bolsonaro.