Correio braziliense, n. 20883 , 27/07/2020. Cidades, p.13

 

Em 7 dias, 15 mil casos no DF

Walder Galvão

27/07/2020

 

 

Distrito Federal chegou a 96.332 diagnósticos e 1.190 mortes provocadas pelo novo coronavírus. Apesar do crescimento diário de casos, o Ministério Público precisou emitir uma recomendação pedindo interdição de um evento de grande porte na cidade

Apesar de o Distrito Federal passar pelo pico da pandemia do novo coronavírus, o número de casos e de mortes provocadas pela doença continua a crescer diariamente. Apenas esta semana, a capital registrou 15.169 diagnósticos e 211 óbitos em decorrência da covid-19. Com os novos registros, o total de infectados chegou a 96.332 e o de vítimas, a 1.190. Enquanto a disseminação da doença aumenta, o Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT) emitiu uma recomendação pedindo a interdição de um evento de grande porte na cidade.

Apenas ontem, a Secretaria de Saúde contabilizou 29 mortes provocadas pelo novo coronavírus e 2.145 casos confirmados. Embora a quantidade seja expressiva, o número de pessoas recuperadas da doença chegou a 80.841. Por isso, 14.182 notificações da covid-19 são consideradas ativas. Dos diagnosticados, 50.833 são mulheres e 45.499 são homens. Por outro lado, a quantidade de mortes é maior entre o público masculino (700) do que o feminino (490).

Das vítimas contabilizadas ontem, todos tinham mais de 40 anos e seis não tinham comorbidades — outras doenças que agravam os sintomas da covid-19. A maioria das mortes é de moradores de Ceilândia (8) e Águas Claras (3). Além disso, a Secretaria de Saúde registrou os óbitos de mais quatro pacientes de outras unidades da Federação, mas que morreram em hospitais da capital. Desde o início da pandemia, 118 pessoas que viviam em outras regiões do país faleceram no DF.

Com 11.586 casos, Ceilândia continua como a região administrativa de maior incidência da doença. Em seguida, está o Plano Piloto, com 7.545 diagnosticados, e Taguatinga, que soma 6.752 contaminações. O Setor de Indústrias e Abastecimento (SIA) (61), a Fercal (66) e o Varjão (135) são os locais com menos registros da covid-19.

Apesar do crescimento de casos, na tarde de ontem o Correio percorreu ruas do Distrito Federal e flagrou aglomerações de pessoas, o que contraria as orientações dos órgãos de segurança. Na Ponte JK, por exemplo, havia intensa circulação. Por meio de nota oficial, a Secretaria de Estado e Proteção da Ordem Urbanística (DF Legal) informou que, ontem, realizou fiscalização de feiras, como a dos Goianos, dos Importados, a de Samambaia e a da Estrutural, além dos espaços de lazer, como o Eixão, W3 Sul e Lago Paranoá. Segundo a pasta, a força-tarefa checou o cumprimento das medidas de segurança sanitária. Desde o início da pandemia, ocorreram 107 autuações pela ausência do uso de máscaras.

Internações

Conforme o novo coronavírus avança, o número de internações cresce na rede pública e privada da capital. Levantamento da Secretaria de Saúde mostra que o DF tem 770 pacientes internados em unidades de terapia intensiva (UTI). Entretanto, a pasta parou de detalhar o quadro clínico dos pacientes. Com a alta demanda nos hospitais, o número de leitos disponíveis é cada vez menor.

De acordo com o monitoramento da pasta, a UTI exclusiva para o tratamento de pacientes com a covid-19 na rede pública atingiu 81,38% de ocupação. Ao todo, são 670 vagas e 520 pacientes internados. Na rede privada, a sobrecarga é ainda maior: 93,28% dos leitos estão comprometidos. Os hospitais particulares têm 250 pessoas em UTI para 269 leitos.

Interdição

Um evento de grandes proporções no Distrito Federal virou alvo de inspeção do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT). Ontem, o órgão recomendou a interdição das festas promovidas pelo Na Praia. O pedido foi encaminhado ao DF Legal. De acordo com os promotores, os organizadores não têm a licença necessária para funcionar e a celebração desrespeita o distanciamento social, uma das poucas medidas eficazes capaz de evitar maior disseminação do coronavírus.

A proposta do Na Praia deste ano era de oferecer uma festa a hóspedes de um hotel da capital. Os participantes poderiam assistir a um show da varanda dos quartos ou em lanchas, estacionadas no Lago Paranoá. Entretanto, segundo o MPDFT, a festividade alcançou um número maior de participantes, o que gerou aglomeração de embarcações.

Por isso, o órgão solicitou ao Instituto do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos do DF (Brasília Ambiental) a fiscalização da festa e de todas as embarcações que emitirem ruídos acima do permitido pela legislação no local. A inspeção também identificou que o Na Praia não tem licenciamento e autorização da Administração Regional do Plano Piloto.

A Polícia Militar também recebeu um ofício do MPDFT, que solicita, em caráter de urgência, policiamento ostensivo no local para verificar o cumprimento, pelos organizadores e frequentadores do show, das normas da legislação ambiental e urbanística, assim como o decreto que dispõe sobre medidas para enfrentamento de emergência de saúde pública gerada pelo novo coronavírus.

O MPDFT deu prazo de cinco dias para que o Executivo informe as providências concretas que foram tomadas. Além disso, na sexta-feira, o órgão já havia acionado a Justiça, pedindo a interdição do evento. Em nota, a organização do Na Praia informou ter ciência do documento que recebeu do MPDFT para a vistoria durante a live, “sem ter sido autuado na ocasião”.

O Correio entrou em contato com o DF Legal e questionou que providências serão adotadas, entretanto, a pasta não respondeu a reportagem até o fechamento desta edição.

Escolas particulares

A diretoria do Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do DF (Sinepe) irá se reunir hoje para definir os próximos passos em relação a volta às aulas. No sábado, o Tribunal Regional do Trabalho da 10ª Região (TRT-10) decidiu suspender o retorno das aulas — anteriormente previsto para hoje — em instituições privadas da capital por 10 dias.

O presidente do Sinepe, Álvaro Domingues, informou que, a princípio, cumprirão a decisão judicial, mas que devem recorrer. “Vamos analisar dados e estatísticas para tentar realizar uma retomada das atividades escolares o quanto antes, mas sempre com segurança para a comunidade”, declarou.