O Estado de São Paulo, n.46255, 08/06/2020. Metrópole, p.A11

 

Wizard deixa governo após sugerir rever óbitos

André Borges

08/06/2020

 

 

Empresário assumiria hoje a Secretaria de Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde

Wizard. Após relatar que militares localizaram fraudes em balanços, bilionário fez ontem nota com pedido de desculpas

O empresário Carlos Wizard desistiu de assumir a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos e deixou o cargo de conselheiro do Ministério da Saúde. Ele tomaria posse hoje.

O empresário lamentou as declarações que deu sobre o plano de recontar os mortos pela covid-19 no País. Ao Estadão, disse ter a informação de que haveria fraude e dados inflados em balanços estaduais, repassada por uma “equipe de inteligência militar” – mas nada detalhou ou quantificou. “Peço desculpas por qualquer ato ou declaração de minha autoria que tenha sido interpretada como desrespeito aos familiares das vítimas da covid-19 ou profissionais de saúde que assumiram a nobre missão de salvar vidas”, afirmou, por nota.

“Agradeço ao ministro Eduardo Pazuello pela confiança, porém decidi não aceitar para continuar me dedicando de forma solidária e independente aos trabalhos sociais que iniciei em 2018 em Roraima”, declarou ainda Wizard.

Nos bastidores, a avaliação em Brasília é de que Wizard falou demais e causou animosidade. Paralelamente, o empresário quis evitar ainda mais ruídos com as empresas que administra, alvo de protestos por parte da população.

A baixa representa mais um revés no Ministério da Saúde, que hoje é gerenciado por mais de duas dúzias de militares sem formação na área. Desde o início da pandemia, a pasta perdeu os ex-ministros Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich, por causa de divergências com o presidente Jair Bolsonaro, que insiste no fim do isolamento social e no uso da cloroquina.

Carlos Wizard, que é o ex-dono de uma escola de idiomas que leva seu sobrenome, cuidaria da secretaria que trata do uso da substância. Ao Estadão, ele chegou a fazer uma defesa enfática da substância como forma de enfrentar o vírus. Também é amigo próximo do ministro interino da Saúde, o general Eduardo Pazuello, que conheceu durante a Operação Acolhida, em Roraima.