Valor econômico, v.21, n.5045, 17/07/2020. Política, p. A19

 

PF indicia Alckmin por suspeita de corrupção

Cristiane Agostine

17/07/2020

 

 

A Polícia Federal indiciou ontem o ex-governador paulista Geraldo Alckmin (PSDB) por suspeita de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e caixa dois eleitoral. O indiciamento faz parte da Operação Lava-Jato e tem como base a delação de ex-executivos da Odebrecht, no inquérito que investiga doações eleitorais da empreiteira.

O ex-tesoureiro do PSDB Marcos Monteiro e o advogado Sebastião Eduardo Alves de Castro também foram indiciados.

Ex-presidente nacional do PSDB, Alckmin começou a ser investigado na Lava-Jato em 2017, a partir da colaboração premiada de dirigentes da Odebrecht. O tucano teria recebido cerca de R$ 10 milhões ilegalmente da empreiteira nas campanhas ao governo do Estado em 2010 e 2014.

Delator na Lava-Jato, o então diretor da Odebrecht em São Paulo, Carlos Armando Paschoal, disse ter repassado R$ 2 milhões à campanha de Alckmin em 2010, via caixa dois. A doação teria sido intermediada pelo cunhado do tucano, Adhemar Ribeiro. Segundo o delator, Alckmin recomendou à empreiteira que fizesse o repasse de recursos a seu cunhado.

Em 2014, houve um novo repasse à campanha do tucano, no valor de R$ 8,3 milhões, segundo as investigações. Outro delator da Odebrecht, o então executivo da empresa Benedicto Júnior, disse que a doação de recursos, via caixa dois, para a campanha de reeleição de Alckmin, teria sido intermediada pelo então tesoureiro do PSDB, Marcos Monteiro. Na delação, Benedicto Jr. afirmou que a Odebrecht fez os pagamentos ilícitos em troca de favores em obras do Metrô e de saneamento.

A PF afirmou ter analisado também o sistema de informática da Odebrecht, conversas por aplicativo e por telefone, e documentos.

O inquérito está no Ministério Público de São Paulo, que pode denunciar os indiciados, pedir novas diligências para aprofundar a investigação ou decidir pelo arquivamento da denúncia.

Alckmin disse ter sido “surpreendido” e afirmou que o indiciamento pela PF é “inacreditável”. O tucano disse que prestará os esclarecimentos necessários. “Eu sequer fui ouvido. Eu não fui ouvido. Sequer fui ouvido”, repetiu Alckmin, ao participar de “live” promovida pelo PSDB municipal de São Paulo ontem. “[Recebi a notícia] com absoluta indignação”, disse.

O ex-governador afirmou ter 40 anos de vida pública e que não teve acúmulo patrimonial nesse período. “Tenho uma vida pessoal modesta”, disse. “Tenho a consciência absolutamente tranquila.” Alckmin afirmou ainda que suas campanhas foram “rigorosamente dentro da lei”.

Em nota, os advogados de Alckmin afirmaram que o indiciamento é “injustificável e precipitado”, e que “feriu um dos princípios basilares do Estado democrático de direito: o direito do contraditório e da ampla defesa”. “A ele foram negados o prévio conhecimento dos fatos que ensejaram as investigações”, disseram os advogados José Eduardo Rangel de Alckmin e Marcelo Martins de Oliveira.

A reportagem não conseguiu contato com a defesa de Monteiro e de Castro.

Alckmin foi presidente nacional do PSDB, governador de São Paulo entre 2001 e 2006 e de 2011 a 2018. O tucano disputou a Presidência da República em 2006 e 2018, além da Prefeitura de São Paulo, em 2000 e 2008.

O PSDB saiu em defesa de Alckmin. O presidente nacional do PSDB, deputado Bruno Araújo (PE), afirmou que Alckmin tem “toda a confiança do partido” e que é “uma referência de correção e retidão na vida pública”. Os diretórios estadual e municipal de São Paulo também divulgaram nota em defesa do tucano, assim como o governador paulista, João Doria.

Neste, o Ministério Público Federal denunciou o senador e ex-governador José Serra (PSDB), sob acusação de lavagem de dinheiro. A filha de Serra, Verônica, também foi denunciada pela Lava-Jato de São Paulo.