O globo, n. 31728, 19/06/2020. País, p. 5

 

Queiroz pagou escola de filhas de Flávio, diz MP

Juliana Dal Piva

Bernardo Mello

João Paulo Saconi

Chico Otávio

19/06/2020

 

 

Os promotores também citam como prova contra o ex-assessor, apontado como operador das 'rachadinhas', pagamento de R$ 174 mil, em espécie, feito por sua mulher ao Hospital Albert Einstein, onde ele passou por um tratamento oncológico

 No pedido de prisão de Fabrício Queiroz feito à Justiça, o Ministério Público do Rio citou duas novas possíveis provas que de que o ex-assessor operava dinheiro recolhido de funcionários do antigo gabinete da Alerj para beneficio de Flávio Bolsonaro e dele próprio. O caso segue sendo investigado pelo MP-RJ. Os promotores mostraram que Queiroz chegou a pagar mensalidade da escola das filhas do atual senador. Apontado como operador das chamadas"rachadinhas" no gabinete, Queiroz também chamou a atenção dos investigadores desde que sua mulher, Márcia de Oliveira, pagou as despesas do tratamento oncológico do marido no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, com dinheiro em espécie.

Pouco antes, ela havia recebido depósito na sua conta no valor de R$ 174 mil. Os promotores cruzaram dados bancários de Queiroz com registros de movimentação do ex-assessor no caixa de um banco, obtidos através de câmeras de segurança. Ao comparar a data e o horário em que os valores foram movimentados, além das quantias, o Ministério Público (MP) argumentou que Queiroz foi o responsável pelo pagamento da escola das filhas de Flávio ao me-nos em outubro de 2018. Outros pagamentos estão sendo investigados.

OBSTRUÇÃO DA JUSTIÇA

Na decisão do juiz Flávio Ita-baiana deferindo o pedido de prisão, à qual O GLOBO teve acesso, o magistrado ci-ta que o MP mostrou que Márcia recebeu, de origem desconhecida, ao menos R$ 174 mil em espécie antes de pagar, também em dinheiro vivo, despesas do tratamento do marido no Einstein. No seu despacho, Itabaiana, afirmou que Queiroz e Márcia poderiam ameaçar testemunhas e atrapalhar as investigações da prática de "rachaclinha" se continuas-sem soltos.

O magistrado também citou na decisão uma mensagem, obtida pelo MP antes da operação de ontem, em que Márcia com-para o marido a um bandido "que tá preso dando ordens aqui fora, resolvendo tudo". Segundo o juiz, testemunhas deixaram de ser ouvi-das por influência de Queiroz, como Danielle Nóbrega, ex-mulher do miliciano Adriano da Nóbrega,que esteve nomeada como funcionária de Flávio por dez anos e foi exonerada no fim de 2018 a pedido de Queiroz. Sobre o pagamento em dinheiro no Hospital Albert Einstein, o juiz escreveu:

"Documentos apreendidos na residência de Márcia Oliveira Aguiar demonstram que ela recebeu pelo menos R$ 174.000 (cento e setenta e quatro mil reais), em espécie, de origem desconhecida, e pagou as despesas do Hospital Israelita Albert Einstein também com dinheiro em espécie". Em maio do ano passado, O GLOBO revelou que Queiroz pagou em espécie R$ 64,58 mil por uma cirurgia no Einstein e desembolsou, também em dinheiro vivo, outros R$ 60 mil para pagar a equipe médica e R$ 9 mil para quitar um débito com um médico oncologista. Queiroz e a mulher trabalharam no gabinete de Flávio Bolsonaro na Alerj. Procurado, na época, sobre o pagamento em dinheiro ao hospital, o então advogado de Queiroz, Paulo Klein, disse que o cliente teria arcado com R$ 133,58 mil em dinheiro pelo procedimento médico e que poderia comprovar a origem dos rendimentos.