Valor econômico, v.21, n.5039, 09/07/2020. Brasil, p. A5

 

Congresso quer mais subsídio na luz e prevê até ‘tarifa do desempregado’

Daniel Rittner

09/07/2020

 

 

Fornecimento gratuito de eletricidade por até seis meses para recém-desempregados, tarifa social para microempreendedores individuais, desconto de 75% na energia consumida por operadores de trens ou metrôs e de 30% para produtores de leite, proibição do corte de luz em clubes esportivos e em templos religiosos.

Esses são exemplos de novos subsídios em discussão no Congresso Nacional e que, se aprovados, podem reduzir significativamente o peso da energia elétrica sobre determinados grupos - mas sempre à custa de um pequeno aumento da tarifa para todos os demais consumidores do país.

Um levantamento da Abrace, associação que representa grandes consumidores industriais de energia, identificou pelo menos 30 projetos de lei, somente na atual legislatura, com novas subvenções. O surgimento da pandemia reforçou essa tendência.

O presidente da Abrace, Paulo Pedrosa, ressalta que mais da metade do total pago nas tarifas refere-se a tributos ou encargos e costuma usar uma metáfora: ao pendurar sempre o custo de mais políticas públicas nas contas de luz, acaba-se transformando o fio da energia em um enorme varal.

Pedrosa faz questão de ponderar que não é necessariamente contra subvenções, mas elas devem ter transparência orçamentária e ser bancadas pelo Tesouro, não por meio de repasses à Conta de Desenvolvimento Energético (CDE) - fundo setorial que arca com subsídios de todo tipo e onera consumidores de todo o país em mais de R$ 20 bilhões por ano.

“Todas essas bondades geram maldades na outra ponta. É o movimento que levou a que mais da metade da conta de luz atualmente não seja energia. Com isso, o Brasil virou o país da eletricidade barata e da tarifa cara”, afirma Pedrosa, que atuou como diretor da Aneel e foi secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia no governo Michel Temer.

“Todos esses benefícios se tornam custo para os demais consumidores e tiram a competitividade da indústria. O subsídio acaba encarecendo o automóvel, a argamassa, o frango congelado no supermercado. Mas, como ninguém vê, todo mundo quer fazer essa bondade”, observa Pedrosa.

Entre os projetos de lei em tramitação está o 3.302/19, da deputada Lauriete (PL-ES), que impede distribuidoras de cortar o fornecimento de energia para desempregados, durante seis meses contados a partir da perda de trabalho.

Para não prejudicar as concessionárias com os inadimplentes, a deputada prevê o uso de recursos da CDE - ou seja, a conta iria para todos. “Nada mais justo”, ela escreve ao justificar sua proposta, que garantir aos desempregados “condições para dedicar-se à dura disputa por um posto de trabalho”.

O orçamento da CDE para este ano, que previa R$ 20 bilhões em cobranças nas tarifas dos consumidores, dificilmente se concretizará porque leva em conta uma projeção de demanda frustrada pela pandemia. Provavelmente, segundo Pedrosa, a CDE de 2021 carregará um déficit referente a 2020.

Na tentativa de difundir mais informação sobre o assunto, a Abrace lançou uma campanha - “O Peso da Luz” -, com site próprio, em que contabiliza, em tempo real, quanto já foi gasto pelos consumidores no ano com impostos, encargos e subsídios. Até ontem à noite, o relógio do “subsidiômetro” marcava R$ 53,4 bilhões.