Correio braziliense, n. 20877 , 21/07/2020. Brasil, p.6

 

Vacinas testadas no país aumentam esperança

Bruna Lima

Sarah Teófilo

Israel Medeiros*

21/07/2020

 

 

Imunizantes desenvolvidos na Universidade de Oxford e na China, com testes realizados no Brasil, tiveram resultados positivos em relação à produção de anticorpos. Especialistas comemoram, mas recomendam paciência: distribuição de doses em massa, só em 12 meses

Diante do descontrole na transmissão do novo coronavírus, o país se tornou alvo fácil da doença que se alastra pelo interior e já matou mais de 80 mil brasileiros. A dificuldade em vencer o inimigo invisível faz do país um terreno ideal para aplicar, em grande escala, as últimas fases de testes de vacinas que têm como objetivo garantir a eficácia da imunização antes de distribuir as doses para todo o mundo. Dos imunizadores mais promissores, dois estão sendo estudados e testados no Brasil. Os avanços estão sendo festejados pela comunidade científica, mas especialistas afirmam que a comemoração deve vir com cautela.

Isso porque tanto a vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford, na Inglaterra, quanto o imunizante do laboratório CoronaVac, na China, tiveram resultados positivos em relação à produção de anticorpos — o que não significa, porém, que elas protejam uma pessoa do vírus, como explica o infectologista Carlos Magno Castelo Branco Fortaleza, professor doutor da Faculdade de Medicina da Universidade Estadual Paulista (Unesp).

No caso da vacina de Oxford, os resultados positivos foram publicados ontem em artigo científico da revista Lancet. Na fase de teste analisada, foi aplicada em um grupo de pessoas e, em seguida, os anticorpos foram extraídos; depois, em um laboratório, observou-se que eles eram capazes de matar o vírus. Os testes também garantiram que a vacina é segura. “É um passo importante, é de se comemorar. Mas não é um sinal de que amanhã teremos uma vacina. Vamos torcer para que rapidamente se prove que ela funciona na vida real”, opina.

Agora, inicia-se a fase de testes com mais pessoas que serão, de fato, expostas ao vírus. A intenção é observar se a vacina protegerá ou não os voluntários do vírus. O professor Carlos Magno, que é membro do Comitê do Coronavírus do Governo do Estado de São Paulo, explica que o estudo divide um grupo, ministra a vacina em uma parte e aplica o placebo em outra. Ao fim, é preciso que seja demonstrado que menos pessoas adquiriram a covid no grupo de pessoas vacinadas.

Para o pesquisador, a previsão é de que os testes sejam finalizados até o fim do ano. Mas para efetiva produção em massa da vacina, ele estima um prazo de 12 meses. Após a finalização da vacina, é preciso analisar como produzi-la e distribuí-la ao mundo inteiro, o que leva tempo. A vacina chinesa, segundo o professor, está em uma situação semelhante à de Oxford, sendo que a última estaria um pouco mais avançada.

Cautela

As projeções vão na mesma linha das realizadas pelo infectologista do Instituto Emílio Ribas, Jamal Suleiman, que explica que o período mínimo estimado para a vacina de Oxford é de 12 meses — pensando nos prazos necessários de logística e produção, após o imunizador estar pronto. Ele atesta que os resultados preliminares são “um grande passo na direção de um produto que pode proteger um contingente de pessoas”, mas pede cautela, explicando que “criar falsas expectativas em relação à saúde das pessoas é muito sério”. “Comemorar significa o coroamento de determinada ação, e ainda não é um coroamento”, resume.

 O infectologista afirma que os resultados são “importantíssimos” para a ciência e que, agora, é o momento de avaliar a eficácia da vacina em uma população abrangente, para observar, por exemplo, se ela funciona em pessoas com comorbidades, como obesidade ou pressão alta, da mesma forma que funciona em pessoas sem qualquer doença. Além disso, os testes dirão se serão necessárias uma ou duas doses, por quanto tempo ela protege, dentre outras respostas.

Virologista e infectologista da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Nancy Bellei também avalia que ao analisar a logística necessária para distribuição, a imunização em massa só deve ocorrer em 2021. “Estamos iniciando um momento novo, mas a pandemia não acabou. Teremos que aprender a conviver com o vírus, porque ele vai continuar circulando. Conviver com esse vírus é não relaxar nas medidas, fazer a nossa parte”, orienta. 

Há outras etapas importantes antes de estabelecer uma distribuição em massa da futura vacina. No acordo com a Universidade de Oxford, o Brasil produziria 30 milhões de doses, entre dezembro e janeiro. O investimento está estimado em R$ 1,58 bilhão. Um das dificuldades do Brasil, no entanto, é o desenvolvimento de uma tecnologia para ampliar a capacidade de fabricação do imunizante. Outro problema é a concorrência com outras nações que, inclusive, já fecharam acordo mesmo antes da conclusão dos testes.

*Estagiário sob a supervisão de Andreia Castro

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Testagem começa hoje

Bruna Lima

21/07/2020

 

 

Um mês após o início dos testes da vacina contra a covid-19 desenvolvida pela Universidade de Oxford, começam, hoje, os estudos para comprovar a eficácia da imunização desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac. Os testes têm início em São Paulo, onde 890 médicos e paramédicos que não foram infectados pelo vírus receberão a potencial imunização na terceira etapa de testagem para verificar a eficácia das doses.

Uma comissão de pesquisadores internacionais avaliará os voluntários em consultas agendadas a cada duas semanas. A estimativa é de concluir todo o estudo da fase três em até 90 dias. A vacina será distribuída no âmbito do estudo para Brasília, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraná.

“Sabemos que a produção de uma vacina eficaz e segura será a principal medida de saúde pública no combate à pandemia, sobretudo, ao considerar a alta taxa de contágio do vírus SARS-CoV-2 e a falta de medicamentos comprovadamente eficazes e disponíveis à população”, observa Dayde Mendonça, professora da Faculdade de Ciências da Saúde (FS) e gerente de Ensino e Pesquisa do Hospital Universitário de Brasília (HUB). Ela integra a equipe que conduzirá os testes no hospital brasiliense.

Fim do ano

O Instituto Butantan fechou a parceria com a produtora chinesa da vacina. Se a eficácia for comprovada, o Butantan receberá da Sinovac, até o fim do ano, 60 milhões de doses para distribuição.

Já a vacina britânica tem previsão de chegar ao Brasil por meio do consórcio Gavi. Ontem, os primeiros resultados positivos em humanos foram publicados na revista científica Lancet. A análise diz respeito às fases 1 e 2 do desenvolvimento da vacina. A terceira está sendo feita no Brasil desde o fim de junho em parceria com a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Para o estudo foram fornecidas 5 mil doses aplicadas em voluntários de São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia.

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País bate marca de 80 mil mortes

Bruna Lima

21/07/2020

 

 

Mesmo registrando menos de mil novos óbitos devido aos atrasos de contabilização característicos dos fins de semana, o Brasil iniciou a semana ultrapassando mais uma marca em total de óbitos pela covid-19. São agora mais de 80 mil vidas perdidas em meio à pandemia. Ontem, foram acrescentados 632 óbitos, totalizando 80.120. Em relação aos casos confirmados, o país soma 2.118.646 infecções, com acréscimo de 20.257 em 24 horas.

Com o fechamento da semana 29, o Brasil observou os números de novas infecções diminuir ao comparar as duas semanas anteriores, que tiveram recorde de confirmações. No entanto, o mesmo não ocorreu em relação às fatalidades, que refletem os aumentos de novos adoecidos nas semanas 27 e 28. O acumulado de óbitos entre 12 e 18 de julho foi o maior desde o início da pandemia, com 7.303 mortes.

A previsão é de que a semana também seja marcada por grande quantidade de óbitos, já que a doença se interioriza no país e avança principalmente para o Centro-Sul. Atualmente, 20 unidades federativas registram mais de mil mortes pela doença. São Paulo lidera o ranking brasileiro com 19.788 perdas. Rio de Janeiro fica em segundo, com 12.161 fatalidades.

Em seguida estão: Ceará (7.185), Pernambuco (6.036), Pará (5.538), Amazonas (3.146), Bahia (2.891), Maranhão (2.640), Espírito Santo (2.256), Minas Gerais (2.004), Rio Grande do Norte (1.585), Paraíba (1.517), Alagoas (1.413), Mato Grosso (1.384), Paraná (1.357), Rio Grande do Sul (1.285), Sergipe (1.156), Piauí (1.118), Distrito Federal (1.112), Goiás (1.106).

Estabilização

As tendências de incidência e mortalidade por covid-19 no Brasil se estabilizaram em patamares altos, avalia o último Boletim Observatório Covid-19, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), divulgado ontem. O estudo é referente ao período de 28 de junho a 11 de julho, que corresponde às semanas epidemiológicas 27 e 28.

A estabilização das tendências a nível nacional é resultado de movimentos de avanço ou recuo da pandemia nas unidades da federação, mostra a pesquisa. No caso da média diária de registro de casos, houve quedas no Rio Grande do Norte (-12,3%), Roraima (-9,3%), Rondônia (-8,4%), Rio de Janeiro (-5,3%), Espírito Santo (-3,7%) e mais 10 estados. Por outro lado, a média cresceu no Mato Grosso (+4,1%), Santa Catarina ( 3,7%), Amazonas ( 1,9%), Rio Grande do Sul ( 1,8%), Goiás ( 1,7%) e outros sete estados. Apesar da queda, Roraima continua a ser o estado com a maior taxa de incidência, seguido por Distrito Federal e Sergipe.

Em relação à mortalidade, o maior aumento no período foi registrado no Tocantins, onde a média diária de óbitos cresceu 5,3% nas últimas duas semanas. Outros estados com aumentos mais expressivos são Distrito Federal ( 4,5%) Rio Grande do Sul ( 4,3%), Santa Catarina ( 3,9%), Minas Gerais ( 3,9%) e Paraná ( 3,4%). Ao todo, 13 unidades da federação tiveram aumento na taxa de mortalidade nas últimas duas semanas epidemiológicas. Por outro lado, há tendência de queda de mortalidade em Roraima (-12,1%), Rio Grande do Norte (-7,7%), Pará (-2,9%), Rio (-1,9%), Espírito Santo (-1,9%) e mais nove estados.