O globo, n. 31695, 17/05/2020. País, p. 6

 

Governadores criticam pressão para reabertura

Geralda Doca

Gustavo Schmitt

Manoel Ventura

14/05/2020

 

 

Bolsonaro quer usar socorro a estados como moeda de troca para relaxar isolamento. Secretários pedem sanção imediata do projeto

ROBERTO CASIMIRO/FOTOARENAInegociável. João Doria, governador de SP: ‘O governo tem contribuir para que os estados trabalhem para salvar vidas’

 A intenção do presidente Jair Bolsonaro de usar o pacote de socorro aos estados como moeda de troca para conseguir a flexibilização da quarentena provocou reação de governadores. Eles criticaram a postura de Bolsonaro, que, como revelou o GLOBO ontem, pretende atrelar a liberação de recursos a uma ação coordenada nos estados para iniciara abertura gradual da economia a partir do próximo mês de junho. O governador de São Paulo, João Doria, disse que a negociação para reabertura é inaceitável:

— Negociar o que é um direito dos estado sé algo absolutamente inaceitável. Não há o que negociar. O governo tem que cumprir o que determina o Congresso e contribuir para que os estados continuem trabalhando para salvar vidas. Não é hora de proteger interesses políticos ou partidários. São Paulo não negocia nada — disse ele a Globonews. Reunidos ontem numa live do Observatório da Democracia — instituição que reúne sete fundações partidárias — outros governadores endossaram as palavras de Doria.

‘BASE CIENTÍFICA’

O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), disse que a relação com o governo deve “se basear em lealdade, não em chantagens”.

— Não se trata de interesses pessoais de governadores. Se Bolsonaro quer debater o conteúdo de medidas preventivas, estamos prontos a participar e ouvir as propostas. E, evidentemente, podemos até concordar com as propostas, desde que tenham base científica e não sejam meros achismos ideológicos —afirmou. O governador da Bahia, Rui Costa (PT), fez coro e acusou Bolsonaro de “engavetar” o projeto de socorro.

— O presidente simplesmente botou o projeto na gaveta. Isso não é se propor a governar com seriedade. É como se as relações fossem pessoais.

Quem de nós não queria estar com o comércio aberto? Não temos alternativa. Temos que valorizar avida humana. O governador do Pará, Helder Barbalho( MD B) disseque o país não pode perder tempo com discussões ideológicas.

—As medidas de isolamento são determinantes para reduzir o contágio e garantir atendimento no sistema de saúde. O único adversário do Brasil nesse momento deve ser o coronavírus. Precisamos de uma grande união em torno da vida —afirmou. Para Renato Casagrande (PSB), governador do Espírito Santo, o país está à deriva.

— Precisamos aumentar o isolamento evitando aglomerações. A dificuldade é que não há coordenação nacional. Não bastasse isso, o presidente procura enfrentamento em todos os assuntos. Jamais pensei que ele fosse fazer enfrentamento à vida. Paralelamente à reação dos governadores, os secretários de Fazenda estaduais enviaram carta ao presidente pedindo a imediata sanção do projeto de ajuda aos estados.

No documento, assinado por representantes de todos os estados, eles expressam preocupação com a demora da sanção, falam das dificuldades para manter serviços essenciais à população e lembram que o projeto está há uma semana à disposição do presidente. Além do socorro de R$ 60 bilhões em transferências diretas, os secretários destacam outros pontos do projeto, como suspensão da dívida. Eles não mencionam o reajuste dos servidores públicos, principal ponto de divergência do pacote de ajuda.