O globo, n. 31694, 16/05/2020. Especial Coronavírus, p. 8

 

Seis erros de Bolsonaro no combate à pandemia

Evelin Azevedo

16/05/2020

 

 

Da 'gripezinha' ao 'não sou coveiro', presidente menosprezou crise, trocou ministros e entrou em choque com governadores
 Aglomeração. Bolsonaro em visita a comércios abertos de Brasília, em março
Desde o início do surto de Covid-19 no Brasil, o presidente Jair Bolsonaro vem colecionando erros no combate ao vírus. Menosprezou a agressividade da doença e declarou ser contra o isolamento. Respondeu com ironia sobre as mortes, espalhou notícias falsas, errou previsões e números.

 Minimizou a doença

Em 10 de março, quando estava em Miami, Bolsonaro afirmou que a crise era "fantasia" e que "não é isso tudo que a grande mídia propaga". Um dia depois, a Organização Mundial da Saúde declarou pandemia.

Em 15, 16 e 17 do mesmo mês, Bolsonaro chamou de "histeria" a preocupação com a propagação. No dia 20, o presidente disse que "depois de uma facada, não seria uma gripezinha que vai me derrubar". Quatro dias depois afirmou que, por seu histórico de atleta, não precisaria se preocupar.

 Descumpriu o isolamento

Mesmo com orientação do Ministério da Saúde e decreto do Distrito Federal, Bolsonaro participou de manifestação com apoiadores em 15 de março e 19 de abril. No dia 24, mostrou-se contrário ao isolamento social horizontal. Em 29 de março, o presidente fez um passeio por várias lojas de Brasília. Em 7 de maio, reuniu ministros e empresários e os levou para conversar, de surpresa, com Dias Toffoli, presidente do STF, para afrouxar o isolamento.

 Saída de ministros

Após divergências sobre isolamento, Bolsonaro demitiu o então ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, em 16 de abril. O substituto foi Nelson Teich, que pediu demissão ontem. Sergio Moro, que comandava a pasta da Justiça e Segurança Pública, demitiu-se em 24 de abril, por tentativa de interferência na Polícia Federal.

 Desrespeito às vítimas

Em 20 de abril, sobre o aumento de vítimas, o presidente respondeu a jornalistas que não era coveiro. Oito dias após, quando o país registrava 5.050 óbitos, disse: "Sou Messias, mas não faço milagres". Para 9 de maio, Bolsonaro marcou um churrasco, que depois disse ser "fake".

 Dados errados

Em março, Bolsonaro afirmou que a quantidade de óbitos por Covid-19 em 2020 não alcançaria a quantidade de mortes por H1N1 em 2019 (796). Em 30 de abril, o presidente compartilhou no Facebook uma notícia falsa que dizia que a OMS incentiva a masturbação na primeira infância. Nos últimos dias, Bolsonaro tem usado uma estimativa —que não diz de onde é —de que 70% da população brasileira vão pegar o novo coronavírus. Na terça-feira, o presidente teve uma publicação no Instagram marcada como falsa, ao comparar os números de mortes de doenças respiratórias de 2019 e 2020.

 Desavenças com governadores e prefeitos

Por visões opostas no enfrentamento à crise, Bolsonaro criou desavenças com governadores e prefeitos. Para o governador do Rio, Wilson Witzel, Bolsonaro "nunca deu à pandemia a importância que ela merece". Em reunião, em 25 de março, João Doria, de São Paulo, fez críticas ríspidas ao presidente, o que vem se repetindo.