Valor econômico, v.21, n.5034, 02/07/2020. Política, p. A12

 

Ala ideológica tenta retomar controle do MEC

Fabio Murakawa

Matheus Schuch

Marcelo Ribeiro

Raphael Di Cunto

02/07/2020

 

 

O presidente Jair Bolsonaro pretende escolher ainda nesta semana o novo ministro da Educação. Após a demissão precoce de Carlos Alberto Decotelli, os currículos dos candidatos estão sendo analisados de forma minuciosa, em meio a uma disputa entre a ala ideológica e a ala militar do governo.

Embora a ala ideológica do governo ainda tente manter o controle sobre a pasta, perdido com a saída de Abraham Weintraub, a tendência ainda é que Bolsonaro opte por um nome moderado, conforme o desejo de militares e de ministros mais técnicos.

Auxiliares do presidente apontavam três favoritos ao posto. Na noite de ontem, começou a circular com mais força no Palácio do Planalto o nome de Mauro Luiz Rabelo, professor da Universidade de Brasília (UnB) e que já atuou como secretário de Educação Superior do MEC na gestão Vélez Rodríguez, o primeiro ministro da Educação de Bolsonaro. Ele foi exonerado quando Weintraub assumiu o posto, em abril do ano passado.

Rabelo junta-se, assim, a Renato Feder, secretário de Educação do Paraná. Ele chegou a ser entrevistado na semana passada pelo presidente, que optou por Decotelli. Bolsonaro o elogiou após o encontro, mas ficou incomodado com o fato de Feder ter feito uma doação eleitoral ao governador de São Paulo, João Doria (PSDB), quando ele concorreu à prefeitura da capital paulista, em 2016. Além disso, a postura pouco discreta de Feder, que teria dado entrevistas como “quase ministro”, irritou o presidente, segundo interlocutores.

Outro favorito é o reitor do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), Anderson Ribeiro Correia. Na noite de ontem, assessores palacianos ainda o consideravam bem cotado. Entretanto, dentro da base do governo no Congresso seu nome sofria resistência.

Correia, teria perdido competitividade na corrida pelo cargo em função de divergências que teve dentro da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Bolsonaro teria sido alertado sobre algumas inimizades criadas por Correia dentro da Capes, que comandou por um ano até janeiro deste ano.

Outro fator que o desfavorece, segundo detratores, é a proximidade com Weintraub.

Segundo relatos, Correia é visto na Capes como “uma pessoa autoritária, de difícil trato, que não escutava a área técnica”. Além de causar incômodo por ter um “perfil ideológico demais”, teria problemas com a comunidade científica e com integrantes do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovações por defender a fusão da Capes com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ).

Em outra via, integrantes da ala ideológica trabalham pela nomeação do advogado Sérgio Sant’Ana, que foi assessor especial de Weintraub. Alinhado às ideias de Olavo de Carvalho, ele já era elogiado por deputados bolsonaristas, que veem agora a chance de retomar o controle da Educação após a frustração com Decotelli. De acordo com fontes, essa ala tem apresentado outros nomes ao presidente.

Em conversas reservadas, Bolsonaro afirmou que pretende escolher o novo ministro rapidamente e que “sabe que desta vez não pode errar”. Ele quer deixar para trás as polêmicas em torno da indicação de Decotelli, que ficou no cargo cinco dias.