Valor econômico, v.21, n.5034, 02/07/2020. Política, p. A12

 

Ministros do STF coordenam atuação sobre Flávio

Isadora Peron

Luísa Martins

02/07/2020

 

 

O Supremo Tribunal Federal (STF) sinalizou ontem que pretende tomar uma posição colegiada sobre o caso que envolve o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ). Relatores das duas ações que questionam a decisão de conceder foro privilegiado ao filho do presidente Jair Bolsonaro, Celso de Mello e Gilmar Mendes evitaram decidir sozinhos e postergaram o desfecho do caso para agosto, após a volta do recesso do Judiciário.

Hoje, o sentimento majoritário na Corte é o de que a investigação sobre Flávio deve permanecer na primeira instância. Mesmo assim, os ministros evitaram decidir monocraticamente, o que poderia causar uma nova briga com o Palácio do Planalto.

Reservadamente, ministros do STF têm criticado a decisão do Tribunal de Justiça do Rio (TJ-RJ), que tirou o caso das “rachadinhas” das mãos do juiz Flávio Itabaiana, da 24ª Vara Criminal, responsável por diversas diligências contra o filho do presidente e pela prisão do ex-assessor parlamentar Fabrício Queiroz.

Para integrantes do STF, a decisão contrariou o atual entendimento da Corte sobre o assunto. Em maio de 2018, o plenário decidiu que a prerrogativa de foro seria aplicada apenas aos crimes cometidos durante o exercício do mandato e relacionados às funções desempenhadas.

Ontem, o decano decidiu adotar o “rito abreviado” para analisar a ação movida pelo partido Rede Sustentabilidade contra a decisão que beneficiou Flávio. Na prática, isso significa que Celso de Mello não deve analisar sozinho o pedido de liminar feito pela sigla, e sim discutir o mérito do processo direto no plenário. O ministro também deu um prazo de dez dias para que a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) e o Tribunal de Justiça se manifestem sobre o assunto.

Uma decisão semelhante foi tomada anteontem por Gilmar, em reclamação apresentada pelo Ministério Público do Estado do Rio (MP-RJ), que também questionou o fato de a investigação contra Flávio ter deixado a primeira instância e passado a tramitar no Órgão Especial do TJ. A interlocutores, o ministro sinalizou que não pretende proferir uma decisão individual, mas levar o caso para ser debatido pela Segunda Turma do Supremo.

Na Corte, aposta-se que o caso de Flávio seja resolvido a partir do recurso que está com Gilmar, que trata do caso concreto. Já o processo sob a relatoria de Celso é uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) que, apesar de questionar a decisão que beneficiou Flávio, faz um debate mais amplo sobre a interpretação de um dispositivo da Constituição do Estado do Rio que trata do foro por prerrogativa de função dos deputados estaduais.

Flávio é investigado pelos crimes de peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa, que teriam sido praticados a partir do desvio de salários de funcionários (“rachadinha”), quando era deputado estadual.

Em petição apresentada anteontem, os novos advogados de Flávio sustentaram, na ação relatada pelo decano, que ele tem direito a foro especial, já que deixou o cargo na Alerj para assumir um mandato de senador. A defesa argumentou ainda que decisões em ADIs deveriam ser tomadas pelo plenário.