Correio braziliense, n. 20874 , 18/07/2020. Cidades, p.17

 

Do cativeiro aos cuidados do zoo

Jaqueline Fonseca

18/07/2020

 

 

Cobras pítons apreendidas, nos últimos dias, pela Polícia Civil e pelo Ibama recebem tratamento médico e banho terapêutico a cada dois dias para curar ferimentos na pele

Num recinto apropriado, com palhas, galhos e outros obstáculos naturais, duas cobras exóticas da espécie píton convivem e são acompanhadas pela equipe de cuidadores de animais e veterinários do Zoológico de Brasília. Uma é a píton albina, de pele amarelada e esbranquiçada, que pesa 16,7kg e tem 3,92m. A outra é a píton indiana, escura e com manchas marrons, um pouco menor do que a albina, tem 10kg e 3,33m. Nenhuma delas é peçonhenta, ambas matam suas presas por constricção, ou seja, esmagadura.

Quando chegaram ao Zoológico de Brasília, na última segunda-feira, elas passaram por um check-up. Ao diagnosticar que os animais estavam debilitados, a equipe encaminhou as serpentes ao hospital veterinário do Zoológico. As duas cobras foram apreendidas pela Polícia Civil em uma ação realizada em Vicente Pires, no último dia 10.

Diariamente, as serpentes tomam banho de sol. Dia sim, dia não, ganham um banho terapêutico com antiséptico. O Correio acompanhou o trabalho da equipe composta por três cuidadores e uma veterinária. Fernanda Mergulhão é a veterinária e responsável técnica pelas cobras. Ela explica que as duas pitons chegaram ao Instituto Zoológico debilitadas e com marcas aparentes. “Os animais têm algumas alterações de pele compatíveis com infecção, erro de manejo, ou seja, erro de criação do animal e da espécie. Então, o que gente fez foi aplicar um antibiótico, anti-inflamatório e um banho com antisséptico para poder tratar essas feridas”, disse a veterinária.

Marcos Santos, um dos cuidadores dos animais, disse que a superfície onde a cobra vivia, provavelmente, era suja e úmida. “Pode ser muita água, umidade ou quentura demais. Embaixo dela há bastante machucado por causa do lugar onde ela estava, provavelmente não tinha muita limpeza”, explica. A veterinária responsável pela equipe mencionou que também pode ser uma “troca de pele inadequada ou abrasão”. Ela disse, ainda, que é difícil precisar as razões, já que o histórico do animal é desconhecido. A píton albina também tem uma cicatriz aparente no meio da escama. A marca pode ter sido gerada pela aplicação de alguma injeção, por exemplo, mas não é possível precisar.

A resposta aos cuidados veterinários ainda não é visível, pois as cobras possuem metabolismo lento e isso impacta, também, na cicatrização de ferimentos. “São animais ectotérmicos, ou seja, eles dependem da temperatura externa para o metabolismo funcionar, e isso reflete no tratamento. Então, a resposta é demorada; em um mês, mais ou menos, a gente consegue ver se tá funcionando ou não”, explicou Fernanda.

Banhos

O tratamento oferecido às cobras consiste em um banho de cerca de 20 minutos, com esponja macia e uma espuma com medicamentos que combatem as infecções, um enxágue com água corrente e uma boa dose de carinho no manejo dos animais. Cuidadores e veterinários relataram que as duas pítons recém-chegadas ao Zoológico são muito dóceis. Marcos Santos, que explanou sobre os ferimentos das serpentes, fazia carinho na píton albina enquanto conversava com a reportagem. Das 26 cobras que chegaram ao Zoológico de Brasília, as pítons são as duas únicas que precisam do tratamento médico e banho terapêutico periodicamente. As outras estão no serpentário, onde não tivemos acesso.

Alimentação

Além de refletir na resposta ao tratamento, o metabolismo lento das serpentes impacta, principalmente, na alimentação delas. As cobras comem, em média, quinzenalmente. Como a equipe do Zoológico não sabe a última vez que os animais recém-chegados se alimentaram, uma estratégia foi adotada. “A ideia é abater previamente os roedores, então ofertamos para todos os exemplares, seja ele peçonhento ou não. Se a serpente comer, ok, se não a gente tira esse animal e anota na ficha, e vai acompanhando e ofertando de 15 em 15 dias, ou, se for o caso, vai ofertando semanalmente”, explicou Carlos Nóbrega, diretor de répteis do Zoológico, ao Correio.

Na última quarta-feira, as duas pítons alimentaram-se. Cada uma comeu um roedor previamante abatido. A veterinária Fernanda Mergulhão disse que, pela recepção das cobras ao alimento, fica evidente que a alimentação delas era inadequada, pois cobras dessa espécie costumam comer animais maiores, como coelhos. No entanto, quando foi ofertado o animal a elas, as cobras rejeitaram.