Essa é a segunda investigação da PF sobre o episódio. Na primeira, finalizada em setembro de 2018, foi concluído que Adélio Bispo agiu sozinho no dia e no momento em que esfaqueou o então candidato.

O superintendente da Polícia Federal em Minas Gerais, Cairo Costa Duarte, e o delegado responsável pela investigação, Rodrigo Morais, apresentaram ontem em Brasília o resultado da investigação ao novo diretor-geral da PF, Rolando Souza, por se tratar de um caso em que o presidente da República é a vítima. O documento foi disponibilizado aos advogados de Jair Bolsonaro.

Para investigar o caso, os policiais vasculharam todos os contatos feitos por Adélio por meio de celular, e-mail e redes sociais nos últimos dez anos. O relatório mostra que 192 pessoas foram ouvidas, entre testemunhas e suspeitos, sendo 103 formalmente e 89 entrevistadas em campo. O documento também traz 23 laudos periciais com dados extraídos de telefones e computadores de investigados e resultados de exames feitos a partir de notícias postadas em redes sociais, que apontavam, supostamente, a participação de terceiros no atentado, o que foi descartado até o momento. Também foram analisadas mais de sete mil e-mails de sete contas diferentes gerenciadas por Adélio.

BUSCA POR EMPREGO

Com Adélio, foram apreendidos quatro celulares, sendo que dois estavam quebrados, e um chip telefônico. O notebook que estava com ele não funcionava. Os policiais analisaram ainda seis computadores usados por Adélio em uma lan house em Juiz de Fora. Nesses materiais, os investigadores encontraram apenas Adélio em busca de emprego, acionando pessoas nas redes sociais para convencê-las a não votar em Bolsonaro e pesquisas sobre assuntos como maçonaria. Não apareceram indícios de envolvimento de outras pessoas no atentado.

De acordo com o depoimento do próprio Adélio à PF, ele passou a planejar o atentado contra Jair Bolsonaro quando viu um outdoor em Juiz de Fora informando que ele estaria na cidade em 6 de setembro.

A investigação também descartou qualquer participação de integrantes de facções criminosas no atentando, em parceria com Adélio. Segundo investigadores, ele se aproximou de integrantes de uma determinada facção depois de ser detido e levado ao presídio federal de Campo Grande.

A PF também quebrou o sigilo bancário dos quatro cartões que estavam em nome de Adélio Bispo e concluiu que os valores eram compatíveis com os trabalhos dele como garçom. Para os investigadores, ele possui esse número de cartões porque trocava constantemente de emprego, e todos eram ligados a contas em que Adélio recebia salários.

Após a apresentação desse relatório, a apuração seguirá em andamento. A Polícia Federal aguarda o Supremo Tribunal Federal (STF) decidir se a perícia no celular e em dados bancários e fiscais de Zanone Manuel de Oliveira, o advogado de Adélio, pode ser feita no âmbito dessa investigação. O objetivo dos investigadores com a análise do material é saber se o advogado foi pago para atender Adélio e por quem.

Mesmo depois de o juiz federal Bruno Savino, da 3ª Vara da Justiça Federal em Juiz de Fora, concluir que Adélio tem transtorno delirante persistente e que não pode ser punido criminalmente, a Polícia Federal também trabalhou com a hipótese de um terceiro ter se “aproveitado” da doença para incitá-lo a cometer o crime. No entanto, nenhuma diligência ou testemunha conseguiu comprovar isso até agora.