Valor econômico, v.21, n.5033, 01/07/2020. Brasil, p. A4

 

Ajuda de R$ 600 vai durar mais 2 meses, mas dúvidas persistem

Matheus Schuch

Edna Simão

Murillo Camarotto

01/07/2020

 

 

O presidente Jair Bolsonaro prorrogou ontem, por decreto, o benefício emergencial de R$ 600 por mais dois meses. A forma como será feito o pagamento das parcelas adicionais aos beneficiários, no entanto, não foi definida. Mas, diferentemente do que aconteceu nos repasses anteriores do programa, a transferência dos R$ 600 mensais poderá ser dividida em mais de um depósito.

Durante evento no Palácio do Planalto, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que a parcela poderia ser paga de forma diluída para se ter uma “aterrissagem inteligente”. Guedes chegou a dizer que poderiam ser pagos, por exemplo, R$ 500 e outros R$ 100 no fim do mês. Já, no mês seguinte, seriam depositadas duas parcelas de R$ 300.

Também poderá ser em três parcelas de R$ 500, R$ 400 e R$ 300, como propôs Bolsonaro. O importante é que a soma das parcelas resulte em R$ 1.200.

As declarações de Guedes causaram dúvidas quanto ao cronograma de pagamento. O presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães, tentou esclarecer dizendo que não foi definido como será o cronograma de pagamento das duas parcelas adicionais. De acordo com ele, o governo manterá os R$ 600 mensais, mas o valor poderá ser feito em mais de um depósito no mesmo mês.

“Estamos ainda discutindo e precisa ser verificado pelo presidente e pelo ministro Paulo Guedes este cronograma. Serão R$ 600 em cada mês, mas não está definido se serão um depósito ou dois em um mês", explicou Guimarães.

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), defendia a manutenção do atual modelo, com repasse de R$ 600 a cada mês, enquanto Bolsonaro e Paulo Guedes trabalhavam por um número maior de parcelas de menor valor.

Para evitar a necessidade de envio de um novo projeto de lei sobre o tema ao Congresso, o presidente resolveu prorrogar o benefício por decreto, mas nesse caso não poderia mudar o valor. A solução estudada agora é fatiar esta parcela ao longo do mês, para dar noção de redução gradual até que se aprove o programa da renda mínima.

Em solenidade, Bolsonaro adotou um discurso pacificador e fez elogios à postura do Congresso Nacional na aprovação de medidas econômicas de combate aos efeitos da pandemia. Após agradecer a presença de Maia e do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), Bolsonaro convidou ambos para participarem de sua próxima viagem e disse que, “juntos, podemos fazer muito pela nossa pátria”.

O presidente justificou suas saídas durante à pandemia, dizendo que precisa estar no meio do povo para ajudá-lo a enfrentar seus problemas. Também admitiu que o valor de R$ 600 é baixo, mas que “é muito para aqueles que não têm nada”. Na contramão do discurso que vinha adotando desde o início da crise, o presidente espera que o fim do auxílio emergencial coincida com um momento de retomada econômica, mas destacou que não se deve esquecer o “bem maior”, que é a vida de todos.

Guedes disse acreditar que o Brasil pode surpreender o mundo com uma retomada mais acelerada da atividade. Segundo ele, a equipe econômica está trabalhando em medidas de saída para a crise como de apoio ao emprego, citando o renda mínima e a carteira verde-amarela. “Em dois ou três meses teremos horizonte claro, se o país vai ficar preso na pandemia e na miséria, ou se vai sair mais rápido [da crise]”, ressaltou.

Para o ministro da Economia, o governo está “fazendo o possível” no enfrentamento da crise e que “evidentemente” o país saiu dos trilhos, mas que os mercados compreendem isso. O importante é retomar o caminho da austeridade fiscal em 2021. Na avaliação de Guedes, os dados preliminares mostram que o fundo do poço econômico foi em abril.