Correio braziliense, n. 20872 , 16/07/2020. Cidades, p.24

 

Rota pelo DF é incomum, diz PRF

Darcianne Diogo

Jaqueline Fonseca

16/07/2020

 

 

TRÁFICO DE ANIMAIS » Apesar de a apreensão de espécies exóticas aumentar nas estradas brasileiras, a PRF não registrou nenhuma ocorrência nas rodovias que cruzam o DF. Aeroporto é a provável porta de entrada

O número de apreensões de animais exóticos vem crescendo em todo o país. Uma das formas de recuperar esses animais, retirados indevidamente da natureza, é por meio de ações da Polícia Rodoviária Federal (PRF) nas rodovias. Dados obtidos pelo Correio revelam que, apenas no primeiro semestre deste ano, o número de espécies exóticas apreendidas nas rodovias aumentou em 39.65%. No entanto, a PRF não registrou nenhuma apreensão nas estradas que cruzam o Distrito Federal.

No primeiro semestre de 2019, foram encontrados 1.430 animais exóticos nas estradas brasileiras. Destes, apenas três foram resgatados em rodovias do DF no ano passado, sendo todas aves. Já durante os seis primeiros meses de 2020, foram apreendidas 1.997 espécies exóticas; nenhuma delas nas estradas da capital federal. A PRF em Brasília explica que os animais exóticos, provavelmente, chegam ao DF pelo Aeroporto Internacional de Brasília. “A quantidade de animais silvestres apreendidos pela PRF no DF também é baixa; a capital federal não faz parte das rotas de tráficos de animais comumente utilizadas”, diz a corporação, por meio de nota.

Em junho, agentes da PRF resgataram uma jiboia de 1,70m na BR-070, em Ceilândia, mas não houve ocorrência. “Boa parte das ocorrências não está relacionada a crimes, mas a cidadãos que encontram esses animais perdidos nas rodovias. A PRF faz, então, o trabalho de encaminhá-los ao habitat natural, sem registro em boletim de ocorrência”, explica a Polícia Rodoviária, em nota.

Cobra exótica

A víbora-verde-de-voguel, espécie originária da Ásia e que não tem antiofídico no Brasil, não será sacrificada, conforme informou, ontem, o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Ambientais (Ibama). O órgão esclareceu que procura uma destinação para o animal, provavelmente o Instituto Butantan, em São Paulo. Ela foi entregue, voluntariamente, na sede do Ibama, em Brasília, na última sexta-feira, e está no Zoológico de Brasília. Apesar de ter sido entregue pelo dono, a Polícia Civil investiga o caso. O delegado da 14ª Delegacia de Polícia (Gama) Willian Ricardo acredita que, pelo fato de a cobra também ser exótica, pode ter sido traficada pelo mesmo grupo que trouxe a naja que picou o estudante de medicina veterinária Pedro Henrique Santos Krambeck Lehmkuhl, 22 anos.

Preocupação

No condomínio onde mora Pedro Henrique, no Guará 2, os moradores relatam medo e preocupação após a repercussão do caso. O jovem criava e mantinha uma naja kaouthia, espécie encontrada no Sul da Ásia, no apartamento que reside com a família. O Correio entrou em contato com o estudante de medicina veterinária, mas ele disse que “não tem interesse em dar entrevista até então”.

Uma mulher, de 42 anos, que preferiu não ter a identidade revelada, mora com o marido e o filho, de 3 anos, na mesma torre do edifício em que Pedro reside. Ela conta que não o conhecia direito, mas esbarrava com o jovem no elevador constantemente. “Ele mora no 5ª andar e o vi algumas vezes, mas jamais suspeitava que isso poderia ocorrer dentro de um condomínio”, disse.

Ela foi diagnosticada com ofidiofobia — medo de serpentes — há um tempo (antes do caso da naja) e relata que, após o ocorrido, não tem dormido direito e apresentou baixa produtividade no trabalho. “Minha vida está um transtorno depois disso. Quando soube que a cobra estava aqui, passei mal, tive taquicardia. O condomínio inteiro virou um pânico. Tampei todas as saídas de ar do banheiro, dos ralos e das tampas de encanamento, por medo. Ainda estamos tentando encontrar respostas para isso, mas eu só espero que ele seja penalizado”, ressaltou.