Valor econômico, v.21, n.5017, 08/06/2020. Brasil, p. A2

 

Cresce desconfiança sobre governo Bolsonaro no exterior

Assis Moreira 

08/06/2020

 

 

A atitude do governo brasileiro de alterar a política de divulgação dos dados sobre a covid-19 ampliar a desconfiança internacional em relação ao presidente Jair Bolsonaro, em meio ao crescimento do número de mortos no país.

Oficialmente, a Organização Mundial da Saúde (OMS) informou ontem que "não tem comentários sobre a questão". Mas não será surpresa se o diretor-geral da entidade, Tedros Adhanom Ghebreyesus, observar nesta segunda-feira, na entrevista coletiva tradicional sobre a pandemia, que qualquer estratégia contra a covid-19 tem que ser baseada em estudos científicos e que, para isso, é preciso ter dados precisos.

A OMS trabalha com os dados fornecidos pelos países e necessita ter certeza de que eles são fornecidos corretamente, diz uma fonte. O regulamento sanitário internacional da OMS requer que um país membro forneça informações no prazo de 24 horas sobre casos como o da covid-19. No caso do Brasil, as informações são enviadas via OPAS, braço da OMS nas Américas.

A argumentação do governo brasileiro sobre uma eventual manipulação do número de mortos por governadores é considerada "ridícula", porque o sistema de notificação de óbitos do Brasil é considerado muito bom.

A postura de Bolsonaro atropela o que os EUA - e por tabela, o Brasil - têm cobrado da OMS no caso da China: transparência. Na verdade, a China chegou a revisar dados sobre o número de mortes. Mas o resultado foi um aumento de 50% no total de vítimas em Wuhan, a cidade chinesa central no epicentro da pandemia global, em um determinado período. Segundo Pequim, a revisão foi por causa da capacidade insuficiente de admissão e tratamento no pico do problema.

Na imprensa internacional, as manchetes sobre o tema variam da BBC de Londres, que realça que o Brasil removeu os dados do covid quando o número de mortos é crescente, até a televisão suíça, que informa que o Brasil tornou os dados "invisíveis". E a France24h, televisão internacional francesa, diz que o Brasil está escondendo os dados.